2012-11-25
- Conferência "O Porto ontem e Hoje", de César Santos Silva, sexta, 30/11/2012, 21h15 na Fundação Inatel (Rua do Bonjardim nº 501)
- Ibéria rende-se às low cost e Alta Velocidade, de Rui Rodrigues
- Operação policial de combate ao tráfico de estupefacientes no Bairro da Sé
- Chefe da PSP do Porto ficou em prisão preventiva
- Funcionária do DIAP informava traficante a troco de droga
- Gaia aprova plano revolucionário de transportes públicos
- Vila Nova de Gaia conquista nova rede de transportes
- Nova vida para as Galerias Lumière
- Rui Rio admite reforço dos apoios sociais no Porto
- Natal no Porto com mais iluminação e estacionamento gratuito
- Nova Avenida cria parque na Foz e ciclovia até à Boavista
- Fotografia do Porto, por Sérgio Tavares
- Arquitecto Souto Moura já tem duas torres projectadas para a China
- Nomeação de dirigentes da delegação do Porto do IHRU, via SSRU
Olho pela janela e vejo o que antes foi a denominada zona industrial do Porto, hoje um espaço com muitos espaços abandonados, com armazéns, alguns cheios de nada, com imensos stands de automóveis - sem automóveis ou com poucos, ninguém compra! - e garagens. Um espaço das farmácias - grande! -, um instituto, e ainda uma empresa que transforma açúcar e outra café. Indústria, verdadeira, acabou, morreu. E comércio e serviços, em tempo de dificuldades, têm pequena representatividade. Antes, 40 anos atrás, aqui no Porto, nesta dita zona industrial havia de facto indústria. Mas havia também indústria por toda a parte da cidade do Porto. Têxteis, por exemplo, várias fabricas na maior avenida do Porto, na Avenida da Boavista. Em Ramalde, mais outras em Paranhos, em Lordelo. Hoje, nem uma. Tudo, em princípio, saiu do Porto para se instalar nos arredores, para o Porto crescer e vingar como cidade, com urbanismo, serviços e turismo.
Mas a indústria que foi saindo do Porto ficou-se entre este e o Vale do Ave, mas depois foi para o Oriente, e está na China. Claro que ainda por cá temos qualquer coisa, mas muito, mesmo muito pouco. Claro que perto de Famalicão ainda temos uma excelente fábrica de pneus e temos perto de Felgueiras e Guimarães sapatos e em S. João da Madeira, mas é muito pouco, deveríamos ter mais. Claro que - já percebemos - fomos o único País europeu que passou da agricultura para os serviços, sem ter tido uma verdadeira indústria. É um facto. E foi mau, hoje estamos a sofrer com isso. O que cria a riqueza é a indústria e nós pouca tivemos e a que tivemos foi mal estruturada e deixámo-la ir-se, para a China, claro.
E não vale ter saudades de um tempo de Salazar - rima com saudade, e fado e futebol... - que terá sido um homem que levou uma vida muito poupada, único exemplo a dar aos nossos políticos de hoje, que utilizam tudo e mais alguma coisa à custa do Estado. Automóveis, casas, cartões de crédito, jantares, almoços, o homem, o Salazar não fazia isso. E até pôs as contas do Estado em dia, mas foi pouco, ficámos com as contas em dia e com ouro em cofres do Estado. Mas não soubemos criar riqueza, criar indústria verdadeira, que nos fizesse crescer e ser um espaço de conforto e futuro. E andámos isolados, solitários, voltados para dentro. E quando já não havia como manter um Estado assim, abrimo-nos ao exterior aos trambolhões, e desorganizámo-nos ainda mais. E nunca, nunca, conseguimos criar bases sólidas, para ter um tempo mais certo quando tudo se nos torna incerto.
Olhando pela janela, vejo - uma vez mais - o que deveria ser a Zona Industrial do Porto, vê-se que não é! Está bordejada de prédios e mais prédios, em ruas desalinhadas. Nem nisso tivemos cuidado, em urbanizar bem, foi-se sempre urbanizando conforme jeito foi dando, e não como deveria ser. Um grande e bom supermercado. Útil sem dúvida! E hoje no País - não é privilégio do Porto, de forma alguma - temos infraestruturas para 30 milhões de habitantes, graças a esta desorganização, e somos 10 milhões, tendendo se nada de contrário for feito a ficarmos 7 milhões. Desperdiçámos espaço para 23 milhões, e dinheiro, e bens, que podiam ser bem aproveitados nos 10 milhões!
Tudo perdido? talvez, não se arrepiarmos caminho, se não assumirmos que todos, todos, errámos, até o Salazar. E - até, até - em democracia foram tantos os disparates que cometemos, mas em democracia temos de ser melhores. Construindo, refazendo, produzindo. E num tempo tao difícil, podemos agarrar uma vez mais na agricultura, no mar, e porque não em indústrias? Podemos, devemos, temos de ser agricultores, industriais, e ter também turismo, e hotéis, e lojas, e Cultura! Mas com parcimónia, com tino. Sem a mania das grandezas, e sem a classe política se achar uma classe que "tem de ser privilegiada" se não faz mal o seu trabalho. Dado que a classe política continua a ser privilegiada e continua, de facto a fazer tão mal o seu trabalho. E precisamos de zonas industriais, de zonas agrícolas, de cidades, de Cultura, precisamos de reocupar o interior, de fazer. fazer, fazer. E dar o exemplo de que vamos conseguir, com mais educação, instrução, respeito, cultura, menos estabilidade de políticos, mas mais estabilidade de políticas e mais bom senso. E teremos a Zona Industrial com indústria, a agrícola com agricultura, a turística com turismo, a de serviços com serviços e a de Cultura, cultural! E a política no seu lugar, que não é o centro de tudo!
Na semana em que as salas de conferências se encheram para a apresentação de mais um Plano Estratégico, agora um para o Douro Sul, somos confrontados com a decisão da “Douro Azul” em abandonar o segmento das viagens de um só dia entre a foz do Douro e a Régua/Pinhão, para se concentrar nos programas de maior duração a bordo dos seus navios. Nestes, os seus turistas não colocam o pé no chão Douriense sem a sua devida monitorização. Quem a critica? O relato dos episódios das “parcerias” com a CP é anedótico de incompetência e desleixo em relação a esta Região e ao seu potencial de desenvolvimento, desde horários descoordenados, composições vandalizadas e sujas, passageiros apeados ou amontoados… Nunca aqui houve uma Parceria Público Privada virtuosa.
De facto, quase contra tudo e todos, o Douro continua a puxar pelas pessoas e pelo investimento privado, pese embora o silêncio e omissão de quem deve zelar pelo interesse público. O museu do Côa deve ser o único no mundo que tem a particularidade de distar, respectivamente, 3 e 4 horas de duas cidades que têm mais de 300 kms entre si. Quem sai de Lisboa precisa de 4 horas de carro para lá chegar. Do Porto, 3 horas! Agora, serão cerca de menos 45 mil passageiros por transporte de ferrovia entre o Porto e a Régua, que era o efeito induzido pela Douro Azul. O próprio risco da CP fechar definitivamente a linha do Douro aumenta, pelo que receio mais um articulado da “Troika” que exija um certo rácio mínimo de passageiros/viagem para a sua manutenção… Fantástica “Troika” esta, que tudo sabe, tudo vê e para tudo tem solução já escrita… Esta tem sido a orientação da CP em relação ao seu produto: degradar a sua oferta e assim afastar a procura, para depois, pasme-se, justificar pela falta desta o encerramento das linhas ferroviárias! Neste caso da Douro Azul e CP, simplesmente, nunca nesta houve quem pudesse decidir sem pedir opinião à sua hierarquia de chefes, no regime centralista que tudo asfixia e burocratiza.
De facto, este é um Norte de documentos estratégicos. Depois, no dia-a-dia, não há coordenação, poder de decisão, diálogo e colaboração. A falha de fundo tem a ver com a falta de poder na Região Norte. Por isso sempre defendemos a necessidade da descentralização das decisões, não só as do Estado Público-Administrativo, mas também as destas Empresas Públicas de âmbito nacional, que mandam a partir dos “Google Maps” instalados no centralismo do Terreiro do Paço. Faz sentido a concentração regional destes meios de transporte, aeroportos - portos - caminho de ferro, numa única holding pública regional gerida, no caso Norte, pela Área Metropolitana do Porto. Aí, os proveitos de uns financiariam os deficits de tesouraria e os investimentos dos outros. Os lucros do Sá Carneiro e do Porto de Leixões pagariam a modernização do caminho-de-ferro, bem como a expansão e os deficits financeiros – que não operacionais – do Metro do Porto e dos STCP. Esta é uma reforma do Estado de que precisamos, que potenciaria uma maior colaboração com o dinamismo dos promotores privados. Não será possível sairmos deste buraco sem medidas diferentes.
José Ferraz Alves
MPN - Movimento Partido do Norte
Vimos solicitar apoio na divulgação do Concerto e Auto de Natal que a Federação das Colectividades do Distrito do Porto e a Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos irão organizar no dia 15 de Dezembro de 2012, pelas 21h30, na Igreja do Corpo Santo de Massarelos, com a actuação do Grupo de Teatro Cena Jovem, do Grupo Coral de Urrô e da Orquestra de Sopros da Banda Musical de Arouca. - Entrada Livre
Com os melhores cumprimentos,
Confraria das Almas do Corpo Santo de Massarelos
Federação das Colectividades do Distrito do Porto
Pedro Figueiredo faz sem dúvida um retrato tão triste da nossa cidade. Sábado 24.11.2012 23h00, noite, dei uma volta com minha mulher pela cidade. Em Costa Cabral, uma pessoa tapada, um frio desconfortável, um cobertor velho, num abrigo de uma paragem de autocarro. Na parte lateral da Casa da Música, um homem a cobrir-se com uns cartões, do frio e da humidade! Em todo o lado desolamento. E na baixa do Porto uns grupos de jovens, todos "numa boa" a beber uns copos e a andar com os seus carros por cima de passeios e a estacionar à balda. Claro que têm de se divertir, claro que devem andar de carro. Mas talvez possam beber um pouco menos, irem mais no mesmo carro, por civismo não estacionar onde não devem, e também não urinarem (em todo o lado) e falarem mais baixo! E o que pouparem em menos gasolina, menos copos e mais civismo, darem aos sem abrigo que estão ali a seu lado e que fingem que não vêem. E... se o Governo, os municípios, as oposições se marimbam para isto, haja a sociedade civil a mais ajudar... dado que já temos muitos que ajudam... e ninguém esqueça que amanhã pode estar do lado errado do lugar!
«Talvez passemos demasiado tempo a falar da reabilitação urbana esquecendo que a reabilitação humana esteja primeiro. Talvez ainda sejamos mais “do betão” e menos da “humanidade”.»
Isto era a entrada da Reitoria da Universidade do Porto em Outubro passado. Presumo que esteja na mesma ou pior, tal como a Fundação da Juventude. Não me venham dizer que não há recursos para tratar disto. Não há é recursos para deixar o património ao abandono. Vejam o bom exemplo da Metro do Porto, e o que poupa em manutenção porque tem vigilância adequada e actua imediatamente.
Na Avenida dos Aliados, esta pessoa dorme abrigada numa caixa multibanco (a ”ironia” é que dorme num edifício que é de um banco). No largo Tito Fontes (ao JN), “restos” de coisas, pertença de outra pessoa que deve deambular por ali. Duas pessoas a dormir “abrigadas” nos recuados de acesso às habitações da Rua Júlio Dinis. A seguir mais duas pessoas a dormir também abrigadas, mas na arcada do prédio da Praça da Galiza… Por fim, alguém que vive dentro de uma tenda debaixo do viaduto que é a Rua Domingos Sequeira (entroncamento com a Rua 5 de Outubro)… No mesmo dia e sem grande esforço, quem ande pela cidade a pé é impossível não reparar que a miséria à vista nesta cidade não é “só” a miséria dos edifícios. Só é miséria nos edifícios porque antes existe a miséria humana.
Talvez passemos demasiado tempo a falar da reabilitação urbana esquecendo que a reabilitação humana esteja primeiro (?). Talvez ainda sejamos mais “do betão” e menos da “humanidade”. E talvez fosse de começar pelo humanismo e depois sim, e por causa deste, consigamos chegar ao “betão”. Em pequeno - tinha 5 anos em 1980 – atravessava de mão dada com o meu pai pelo interior do Mercado do Bolhão para chegar da Formosa a Fernandes Tomás. Chegando a Santa Catarina havia sempre ceguinhos ou aleijadinhos a pedir, cantar… Metiam-me “impressão” (“- Pai, aquele senhor não tem casa?” “- Pai, o Jesus quer que a gente dê tudo o que tem para os pobres?"). Hoje ainda há um casal de cegos no cruzamento entre a Formosa a Santa Catarina.
Neste ano da graça de 2012, os bancos não dão crédito para compra de casa (uma saída que se fecha), o governo faz uma lei que aumenta as rendas e promove despejos (outra saída que se fecha, o arrendamento). A CMP prepara-se para aprovar um novo regulamento de habitação social praticamente Salazarista, que restringe o acesso e degrada as condições de acesso a esta (ainda outra via que se fecha)… Via rendimento, não há acesso a empregos públicos (porque é assim determinado, outra via que se fecha), não há emprego no sector privado (por causa da “crise” em si – outra via que se fecha)… Quem ainda trabalha paga mais impostos e diminui os seus rendimentos (outra via que se fecha)… Resumindo: “os da Rua esperam por nós!”… É sabido que quem calha na Rua, calha pelo cruzamento simultâneo do fecho de várias saídas (divórcio + desemprego simultâneos, p. ex.)… Há ainda quem ainda defenda todas as austeridades como saída ou inevitabilidade, era bom que andasse pé pelas ruas desta cidade. Os meus pais acolheram há cerca de dois anos em casa um jovem que ainda lá vive no meu ex-quarto. Ele tinha trabalho e tudo, mas naquela altura e por vários “azares” simultâneos “aquela” seria a sua primeira noite fora… (Não chegou a ser, afinal.) ”Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
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