2011-02-06
Dar uma volta num dia de semana, à hora do almoço, pelo Mercado do Bom Sucesso, ainda é uma experiência interessante. Consegue-se, apesar de tudo – degradação do local, crise mais geral, descontentamentos mais alargados – estar durante alguns momentos num espaço diferente do que nos vai sendo usual estar. O edifício, tanto por fora como por dentro, está a ficar assaz degradado e ao que parece irá ser sujeito a obras que o transformarão, deixando, ao que se lê, ainda ficar um bocado para mercado antigo.
Hoje, meados de Fevereiro de 2011, hora do almoço, um dia de semana, é-nos possível estar calmamente dentro deste edifício, diferente dos outros. Entrámos pelo piso de rua quem vai da Rotunda da Boavista, podemos ver várias bancas de frutas e vegetais, frescos, com bom aspecto, já vemos morangos em caixas, ou seja, não terão vindo directamente do campo, mas pode ser que não seja a sua “altura” e também que não haja suficiente agricultura, para as necessidades internas de consumo - culpa da CEE, ao que nos vão dizendo, que malandros…dizem. Mas ainda se consegue ter, ficar, “apanhar”, uma imagem menos estratificada do que é um mercado antigo, de proximidade, sem ser um super ou hipermercado, estes têm tudo lá, a bom preço, mas é tudo muito igual, está tudo posicionado no mesmo sítio, frutas - muito calibradas, muito polidas, muito alinhadas - à entrada, bebidas para a direita, leite para a esquerda, talho ao fundo, caixas em filas de cereais, de sumos, de chocolates, de bolachas!
Bem, continuando no Bom Sucesso, as tais bancas com ar agradável, com as frutas e os vegetais, nota-se que as vendedoras (vendedeiras) são novas – ou nós já estamos a ficar velhos, tal como quando olhamos para um polícia, eram todos mais velhos que nós, hoje, são todos mais novos que os nossos filhos – que pela conversa seguiram o negócio que vem do tempo das avós e lhes foi passado pela mães. Mais adiante umas quantas bancas de peixe com bom aspecto, ouvimos dizer que é fresquinho.
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Apesar da ilegalidade do regulamento municipal de propaganda ter sido reconhecida pelos tribunais, pela Comissão Nacional de Eleições e pelo Tribunal Administrativo, a CMP persiste na sua aplicação. Mas, pior ainda, utiliza-o para perseguir alguns partidos políticos e sindicatos, enquanto ignora outros partidos. Pior do que um regulamento ilegal é um regulamento ilegal aplicado de forma discriminatória.
Na última sessão da Assembleia Municipal discutiu-se este assunto e exemplificaram-se diversas situações em que a CMP actuou de forma prepotente e discriminatória. O video dessa sessão está agora disponível para visionamento aqui.
José Manuel Varela
- O Imaterial Serralves - As novas organizações do social no século XXI
Uma, mais uma, muito interessante Conferência, 3 de Fevereiro - já regressaram em Serralves às 5ªfeiras, à noite, desta sobre O Imaterial - em que nos foi possível ouvir - e ver com muito oportunas imagens via novas tecnologias - Diogo de Vasconcelos a apresentar uma excelente panorâmica do que terá de ser o novo mundo, ou antes, como todos nos teremos de desde já - hoje - posicionar para conseguir mais produzir e menos desemprego ter, nesta nova era.
E muito passa por mudar paradigmas, apostando numa forma diferente de estar e ver este nosso mundo, "agarrando" as novas tecnologias a favor do Social. Criando redes entre comunidades, deixando de esperar que o Estado e os Grandes Privados tudo façam por nós e passando "nós" a fazer também, a sermos parte activa da solução, e não só - constante - do problema. E foi-nos apresentando situações que já estão a mover-se por esse mundo fora e não só no mundo dito mais desenvolvido, mas até com excelentes experiências no Quénia e, veja-se, em Beirute. Aprendeu-se muito com tudo o que Diogo de Vasconcelos nos quis e tão bem soube explicar, ensinar. E está agora na mão de todos e da cada um, - mas mais todos em rede - que não só os mais jovens, mas também dos que já temos cabelos brancos originados pelo andar do tempo, de fazermos tudo para sermos diferentes, para aproveitarmos esta nova vaga, para evoluirmos, e para a Europa também continuar activa. E os velhos deixarem de ser vistos - não poucas vezes assim o são! - assim o vamos sendo! - como um estorvo, mas antes como uma excelente ajuda. E todos, todos a apadrinhar a não ser mais do mesmo.
Felicitações a Serralves e ao Diogo Vasconcelos.
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- A Casa da Música em Fevereiro de 2011
Passar/estar na Casa da Música num qualquer dia da semana pela hora do almoço, nesta primeira metade de Fevereiro de 2011 em que o Sol esconde a chuva, é muito confortável, é muito agradável. Em 2011 o País Tema da Casa da Música é os Estados Unidos da América, o que nos é facilmente perceptível – se não o soubéssemos – se consultarmos as brochuras que estão à nossa disposição – gratuitamente – quer com a programação sucinta para todo o ano, quer mais detalhada ao mês, no caso Fevereiro.
1 – Felizmente para o Porto, que vive uma espécie de idade das trevas, temos o Arq.º Correia Fernandes como vereador, voz lúcida e limpa para criticar de forma inteligente a actuação da SRU e da CMP... A sua última intervenção diz a verdade que tem que ser dita: a SRU é inviável porque fornece um produto inviável, não-vendável, desfasado do mercado. Não vai sequer conseguir continuar a poder ter a mesma filosofia - a tal “filosofia” construção high–cost do interior dos quarteirões, deixando as fachadas. Portanto temos de começar já a pensar nos cenários pós–esta–SRU, porque a cidade já está mal gerida há demasiado tempo e a vida não pára...
Por isso:
- a) Não poderemos fingir que as habitações são para ricos que não querem, mas até podem vir morar para a Baixa do Porto. Não obrigar as velhinhas a atravessar a rua... se elas não querem...
- b) Temos de baixar o custo e o tipo de reabilitação corrente de modo a permitir preços-base mais acessíveis. Parte da pesquisa arquitectónica
- c) ...
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- ANA aprova construção de três hotéis junto aos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro
O hotel em questão não vai ser posto em cima de nenhum dos potenciais canais ferroviários junto ao aeroporto, certo? Mais vale perguntar cedo que tarde (prevenir que remediar)...
Uma vez mais: para quando os 1,5 km de via férrea que coloquem o Aeroporto do Porto dentro do mapa ferroviário nacional? Estão à espera que continuem a ser construídas fábricas, estradas, hotéis e afins para tornar as expropriações / soluções técnicas cada vez mais caras e incomportáveis? Nenhum operador turístico vê comboios para o Douro a chegarem/partirem directamente do aeroporto? Ninguém das populações a Sul do Douro quer apanhar o comboio em Ovar, Aveiro ou Coimbra e sair directamente para o seu voo, pontualmente, em vez de fazer o percurso de carro, pagar as respectivas SCUTs e ficar sujeito aos humores do trânsito na VCI?
Há falta de inteligência em Portugal?
Cumprimentos,
Daniel Rodrigues
PS: Está a chegar a hora de convocar manifestações para a porta da REFER e da CP e exigir um mínimo de decência aos seus (ir)responsáveis.
Inclino-me a concordar, e bastante, com António Alves quando diz que o cliente alvo terá um perfil: “ideologicamente comprometido com a recuperação urbana, de mentalidade e modo de vida mais ligado às artes e actividades criativas”. A Baixa não tem condição de bairro: não oferece um colégio de renome nas proximidades, hipermercado, garagem, jardim, parque infantil. Oferece sim, uma excelente rede de transportes públicos, universidade próxima, animação, arte, entretenimento, sendo toda ela um postal histórico, capaz de responder com poucas alterações às necessidades de um mercado, que a aprecia exactamente pela sua característica histórica.
O estrangeirismo de voo, que aplicam à reabilitação, o Tiago e o António, o termo low cost, traduzia-o para sustentabilidade social. Ao não demolir, estamos a poupar toda a nossa periferia, logo incentivamos o aflorar de outros desenvolvimentos económicos, beneficiamos o meio ambiente, criamos qualidade de vida. Ao continuar com a madeira, com a pedra, com intervenções leves, estamos criar mais-valias, a preservar bens únicos. Ao intervir com impacto mínimo estamos a gerar dividendos através da economia. Ao juntar aos habitantes, que são tão poucos, novos habitantes, jovens, com possibilidades de terem um futuro brilhante, com sensibilidade, criativos, com noções claras de preservação tanto da economia como do meio ambiente, estamos a criar um futuro mais risonho. Logo, criamos um resultado favorável às empresas a longo prazo, à economia, através de mais ganho social. Low cost, custo justo, o produto corresponde ao valor, sustentabilidade.
Um investidor que investe para demolir, para reconstruir, com o custo que tal acarreta, custo que recai em toda a sociedade, para apresentar um produto T2 igual ao que existe por toda a parte, não está com certeza a fazer um bom plano de investimento, está sim a criar custos elevados para todos nós, principalmente custos de insustentabilidade social e ambiental. Portanto, além de já por si inflacionado, o custo final é muito superior ao que podemos pagar, é um engano, não é sustentável.
Quanto à política, tento não lhe dar assim tanta importância. A política entra "normalmente" na análise de negócios, como condicionante e neste caso seria: a burocracia, impostos, instabilidade, governação pouco atractiva no mercado comum e excesso de regulamentação. Sei que têm dificuldade em acreditar, mas tenho alguns anos na reabilitação, e pude ver muitos prédios reabilitados para os que lá estão, e para os jovens também, com um enorme esforço financeiro por parte da nossa Cidade. É claro que foram muitos anos de abandono e é muito difícil resultados palpáveis, é até frustrante, desesperante. Podia ter sido feito mais com a Porto Vivo? Creio que sim, que lhe podemos apontar uma má visão estratégica, uma visão demasiado focada em hipotéticos ganhos rápidos, pouca visão de poupança, falta de sustentabilidade, factores que afastaram os pequenos investidores, geraram ilusões estapafúrdias nos pequenos proprietários e fizeram espanto ao mercado internacional ao desperdiçar a sua vantagem competitiva. Mas é a minha opinião.
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Cristina Santos
Estou às voltas com a infantil e deliciosa inocência dos filhos, a prepará-los para uma noite reparadora que amanhã há trabalho. Silencioso, enquanto faço isto e aquilo, penso que eles têm a sorte de ter um pai que lhes vai poder contar na primeira pessoa o que eram aquelas gargantas, aquele serpenteado que vêem na foto antiga de um comboio que mete medo.
Talvez até se interessem por saber mais sobre aquela água vermelha pútrida que estaciona no colo de uma amarra de betão, enquanto nada por lá acontece. Vou poder contar-lhes, fingindo-me culto, que em Portugal há muitos casos singulares de projectos nunca acabados. Vou-lhes referir a ponte (rodoviária) da Régua, aquela que levaria o comboio a Lamego.
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