De: Cristina Santos - "Comércio tradicional"
Antes de mais, parabéns à Baixa do Porto e à Cidade, esta nova oportunidade no Público é uma conquista para todos os portuenses.
Depois, quanto ao comércio, concordo em absoluto com a opinião do Francisco Rocha Antunes, há muito a fazer.
A qualidade e o preço do produto, toda a gente sabe que em tempos de crise não se exigem descontos, mas sim aumento de qualidade, portanto o comerciante deve oferecer produtos melhores com menos margem de lucro. O que acontece é precisamente o contrário, o comerciante do Porto tem procurado reduzir na qualidade e vender o produto ao preço do ano anterior. Como resultado o cliente prefere gastar mais 10 euros numa boa peça no shopping, que 20 num farrapo.
O aumento do desemprego no Porto funciona ao contrário, quanto mais desemprego há, piores são os funcionários. Numa situação de crise as pessoas não se podem dar ao luxo de prestar mal o serviço a que se dedicam. Que culpa tem o cliente que a funcionaria da boutique seja nora do patrão e não tivesse sido colocada este ano? Com certeza que há por aí muitas pessoas que não se importam de vender dignamente sapatos, com a perspectiva da sua competência as poderem levar à gerência dessa sapataria.
A noção de equipa coesa no comércio tradicional traduz-se na união contra a queixa. O cliente queixoso é tido sempre como um caso isolado, o único que se sentiu mal atendido em toda a cidade do Porto, nunca são postos em causa os funcionários ou os produtos.
A estratégia comercial da Baixa não passa pela angariação de novos clientes, mas sim por perseverar nos mesmos de sempre. Faz-se má cara ao novo cliente, para que o antigo se sinta privilegiado; em vez de se aumentar as condições de atendimento forjam-se 2 dedos de conversa dissimulada.
Ora a culpa deste comportamento recai sobre a Srª D. Laura, que até hoje, mesmo com a indemnização das Antas, ainda não criou uma relação com comerciantes nem com consumidores. Se a Associação Comercial fizesse campanhas, em vez de fados repetitivos, a formação e informação dos comerciantes podia melhorar. Se o cliente soubesse que podia mandar um fax «construtivo» à Sr.ª D. Laura alertando para o mau funcionamento de uma determinada entidade e se nesse seguimento o comerciante fosse devidamente alertado para o interesse de corresponder ao mercado, não existiriam tais lobbys.
No entanto a Sr.ª D. Laura também não poderá fazer mais nada, há uns tempos tínhamos uma batata podre no saco, agora é tarde para salvar a semente.
Uma nova conduta comercial se levanta, que não gosta de más cantigas. Ruas como Mouzinho da Silveira, se vierem a ser reabilitadas com realismo, poderão ser palco de um novo mercado que nos trará a recompensa por estes últimos anos de reconversão. Acredito nisso, nessa nova semente, numa nova visão e tenho por certo que em 3/4 anos vamos conseguir uma boa colheita.
Cristina Santos
Ps. Em matéria de recolha de lixo, tenho a comunicar com algum atraso que desde o último post relativo à R. da Boavista, a situação foi completamente resolvida, diminuíram tambem os actos de vandalismo. No Centro Histórico é mais uma questão cívica, uma vez que os comerciantes carregam os produtos nas carrinhas e deixam deliberadamente as embalagens no chão, os residentes atiram resíduos até das janelas, portanto aqui vai ser mais difícil, a menos que tenham, como já vão tendo, cantoneiros de hora a hora.