De: Pedro Figueiredo - "Infelizes (?) os não convidados para a ceia daqueles senhores"
1 – Mas que chique! (E que foleiro.) É ver as fotos da inauguração do “novo mercado”. São “apenas” nojentas e insultuosas as referências aos arquitectos do Mercado, até parecendo que se trata da sua re-inauguração, quando o que ali vai é o que se vê: uma grotesca intervenção que estraga toda a magnífica nave livre (“classificada”) daquele belíssimo edifício. Uma afronta aos arquitectos que suaram para o construir.
2 – Alguns (quase 2.000 peticionários cidadãos inteligentes e agentes culturais) não foram convidados para a ceia daqueles senhores e senhoras (tão elegantes, sim). Porque não é consensual, no mínimo, esta destruição efectuada.
3 – Luta de classes. Em países como a Inglaterra a luta de classes é uma coisa aceite como normal e comum, dado estas, as classes, existirem e terem naturalmente interesses antagónicos. No católico e (não, nada) consensual Portugal, finge-se o contrário. Tentam fingir que a história desta cidade não foi sempre assim. Assim: uma longa, longuíssima luta das classes pelo “direito ao lugar”, em que as burguesias (sempre, sempre apoiadas pelo Estado) tentam ocupar os considerados melhores lugares da cidade, expulsar o povo, especular e ganhar imenso dinheiro, essencial é sempre o apoio comprometido do Estado, seja no Aleixo, Bolhão ou aqui, ou ainda aqui no Bom Sucesso. Como todas as isenções sempre, sempre, “a bem da economia” (dos ricos). Os pobres, onde estão agora?
4 – Estão na rua, após terem sido expulsas as senhoras vendedoras do Mercado do Bom Sucesso. Vejam as minhas fotos e passeiem pelas ruas adjacentes ao Mercado. Muitas vendedoras sub-vivem em vendas de garagem após a sua expulsão do Mercado. Para os pobres é o regresso ao antigamente. Uma vez mais não há espaço para eles. Lembram-se das senhoras expulsas do bairro social e que foram viver como no antigamente para a ilha? Pois é igual. E é Rui Rio e é o darwinismo ideologia de Estado, não é o “mercado (que de resto nunca foi) ”livre”, sequer.
5 – E onde está o Eng.º António Mota? Onde está o “Wally”, que não se vê? Está aqui, mas também aqui e aqui, por forma a garantir que (acha o senhor) ele é que sai vencedor, qualquer que seja o candidato. O candidato Rio a Primeiro-Ministro ou o Menezes a Mayor serão sempre os vencedores. O capital não brinca em serviço. E se o PS voltar, voltará a apoiá-lo por interposto Coelho, Jorge Coelho ou Passos tanto faria. E voltaria a construir outra barragem em Foz-Tua por cima desta se a tal se propussesse e lhe fosse dada a mão do capitalismo de Estado. E o IGESPAR caladinho como um rato.
6 – (Ainda) Sobre a carta dos “reabilitadores urbanos” a favor de Rui Rio - alguns que também apoiam esta “gentrificação urbana” - apetece citar Almada Negreiros: “E ainda há quem não córe quando diz admirar o dantas! E ainda há quem lhe estenda a mão! E quem lhe lave a roupa! E quem tenha dó do dantas! E ainda há quem duvide de que o dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é intelligente nem decente, nem zero!”