De: Luís Gomes - "A sondagem"
Estava tranquilamente a ler uma revista e a desfrutar do sol na marginal do rio, e sou abordado por uma jovem para uma sondagem. Achei o método peculiar, mas não quis ser desmancha prazeres e lá me predispus a ajudar. Perguntam vocês: 'Sondagem do quê?' Era para as autárquicas. Para as autárquicas? Sim, ninguém está a pensar nisso, dado o tamanho buraco em que estamos metidos. Ninguém não é propriamente o termo. Há quem já esteja tão preocupado e empenhado que gasta uns cobres a fazer uma sondagem. E digo alguém, porque um jornal, uma rádio ou revista não se prestariam a fazer sondagens com um método tão pouco preditivo: a pergunta de filtro era 'se votava no Porto'!
A primeira pergunta era de caras. 'Qual das seguintes personalidades gostaria de ver presidente?' (LFM, Paulo Rangel, Rui Moreira e mais outro nome que não me recordo). A mais cómica era a última. 'Quem gostaria de ter como responsável pela cultura:' Ricardo Pais, Mário Dorminsky, Vladimiro Feliz e mais 1. Só faltava lá uma em que perguntasse se queria o Nuno Cardoso para vice-presidente, como já vi escrito na Sábado. Resumindo: o que se está aqui a testar, verdadeiramente, são duas coisas: 1) perceber se algum candidato do centro-direita é potencialmente concorrente com LFM; 2) se vale a pena ter nomes conotados com o centro-esquerda (Nuno Cardoso, Ricardo Pais) para agradar a este ou àquele nicho.
Daqui a uns tempos, direi o que penso sobre cada um dos candidatos. Queria ver se aparecem os nomes, os pensamentos e propostas, mas não há meio. Mas sim, será uma não eleição se não aparecer outro candidato de centro-direita que não LFM. A esquerda parte muito atrás: o nome do PS não diz nada ao povo, e a restante esquerda teima em não se entender. Aparecerá aí a bombeira Ilda e o bombeiro João Semedo. Pelo meio, duas interrogações: a lei de limitação de mandatos que, supostamente, não permite a presidentes candidatarem-se noutras câmaras (parece-me correto se o principio da lei era a renovação de pessoas) e, por outro lado, uma crise económica e social que se poderá traduzir num descontentamento exacerbado e numa punição cega dos candidatos do governo (sejam eles quem forem).
Por último, uma palavra para a votação da reorganização das freguesias no Porto. Tenho um pensamento muito em linha com o que o TAF aqui nos trouxe: o Presidente da JF Nevogilde desfiliou-se do PSD e votou contra as propostas. Foi corajoso e pensou pela sua cabeça. Também era o seu último mandato e não sabemos até que ponto isso infere nas posições que tomou. Quanto à posição em si, discordo totalmente. Ninguém vai discutir a reorganização nas próximas autárquicas porque aí a redução das freguesias será ato consumado. As freguesias urbanas têm uma centralidade muito diferente da das vilas e zonas rurais. Todos nós sabemos quantas vezes lá vamos por ano. Esta reforma devia ser, sim, acompanhada de uma redefinição de competências: transferência de responsabilidades do poder central para os municípios, e destes para as Juntas.
Os tempos são difíceis e a classe politica está terrivelmente desacreditada. As pessoas com capacidade, empreendedoras, honestas e com visão ou saem da politica ou recusam-se (compreensivelmente) a prestar um serviço público.