De: Alexandre Burmester - "Pontes sobre o Douro"

Submetido por taf em Sábado, 2012-06-30 13:45

Há 6 anos, em 03/02/2006, publiquei aqui no Blog o que pensava sobre as pontes a construir entre Porto e Gaia, hoje continuo a pensar o mesmo. A proposta que foi apresentada na passada 6ª feira pela iniciativa do Dr. Luís Filipe Menezes, subscrevo-a inteiramente no conteúdo e não totalmente na forma.

No conteúdo acho indispensável pensar em pontes sobre este rio que em vez de nos unir, separa. Pontes que se estabeleçam a cotas baixas, que se destinem à simples ligação entre as margens e às suas populações. Pontes que permitam que o mesmo turismo que se estabelece pelas mesmas razões do Património, do rio, do vinho entre os dois lados destas cidades que teimam em ser duas, tenha outra continuidade que os tabuleiros da ponte D. Luís. Pontes que sejam ruas de ligação e não rodovias, transportes públicos ou outros que se servem às pessoas, pouco ou nada servem aos espaços onde se inserem. Veja-se a esse propósito o que aconteceu com o tabuleiro superior da ponte D. Luís. Se antes as estruturas urbanas dos centros de Gaia e Porto se desenvolveram por esta ligação, hoje apresenta do lado do Porto um morto vivo que é a Av. da Ponte e do lado de Gaia uma Avenida que outrora representava o seu centro e que definha à custa de uma ligação puramente ferroviária (tal qual a Rua Brito Capelo em Matosinhos).

O que precisamos é de ruas. Ruas que sirvam as pessoas que pisam o chão, seja a pé, seja de carro, seja de bicicleta. O que se torna necessário é devolver os espaços à população, sendo que estes espaços conquistam-se com a presença e a estadia no local. Continuo totalmente de acordo com os números e os gastos propostos. Não me interessa o discurso puramente economicista, da austeridade pura e dura e a consequente falta de investimento e de apostas no futuro. O argumento de que Lisboa gasta mais 100 ou 1000 vezes não serve para justificar, serve para perceber que em Lisboa existem outros horizontes que nesta nossa terrinha se perdem todos os dias. Com esta atitude nunca conseguiremos sequer reivindicar a gestão do Aeroporto, de Leixões, ou ainda andar a “pedir” que não fechem as linhas do Tua. Sejamos mais cosmopolitas e tenhamos os horizontes mais alargados. Não considero que os gastos sejam demasiados e muito menos disparatados, considero sim que seria um excelente investimento.

Quanto à forma, partilho de algumas opiniões ouvidas, ao considerar que as pontes mantêm uma presença muito forte na paisagem, em particular pelo excesso de estrutura. Nada que não se resolvesse com a introdução de mais um pilar ao rio. Mas sobre isto já me pronunciei aqui antes e apenas tem a ver com o “carinho” que os Engenheiros têm pelas “Obras de Arte”, que faz com que sempre que pensem nos vãos a vencer entre as margens do Douro, não conseguem ser simples e fazer desenhos simples. Há sempre que tirar algum recorde mundial sobre vãos e soluções...

A este propósito e após a apresentação das Pontes sobre o Douro, deitei a pensar no fim-de-semana e apresento aqui uma ideia (não mais do que isso) sobre uma travessia pedonal que unisse as duas ribeiras. Trata-se apenas de um esquisso que tem por base os seguintes conceitos:

  • 1. - Promover um percurso turístico entre as zonas históricas;
  • 2. - Diminuir custos;
  • 3. - Dar utilização à ponte para além do atravessamento;
  • 4. - Diminuir o seu impacto na paisagem.

A ponte que proponho é uma versão moderna da Ponte Vecchio, buscando na sua forma a antiga Ponte das Barcas. A implantação que proponho situa-se no enfiamento da Avenida do Infante e une ao final do Cais de Gaia, estabelecendo com a Ponte D. Luís um percurso de atravessamento:

Proposta

Esta ponte permitirá, com recurso a estruturas de pouco impacto junto às margens, a altura de 12 metros para passagem dos mesmos barcos que hoje circulam no rio. No seu desenvolvimento a ponte apresentaria uma altura de 6 metros acima do rio o que simularia as cotas das margens. Na sua parte central apresentaria uma ponte levadiça, que permitiria o acesso a barcos de maior dimensão e altura.

Proposta


A sua estrutura, a executar por tramos, basear-se-ia no apoio sobre as barcas. Esta solução permitiria a remoção da ponte em situações extremas, tais como as cheias. As barcas a serem concessionadas diminuíram os custos e trariam consigo os seus proveitos. Estas teriam diversos usos, tais como os propostos ou outros complementares. Estimo que o seu custo represente ¼ da ponte apresentada com a mesma finalidade.

Proposta
(clicar para ver maior)

Proposta
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A ideia que se apresenta é como disse um esquisso, sendo que considero que qualquer ponte deveria ser objecto de um Concurso Público internacional, onde se procurasse captar o melhor e maior número de participantes, para que ponte que se faça possa, dentro dos custos previstos, ser mais um ex-libris da cidade.

Alexandre Burmester