De: TAF - "Da militância"
Tenho vindo a comentar aqui as minhas aventuras no PSD/Porto. É importante que a vida no interior dos partidos seja conhecida, para incentivar a sua renovação e motivar quem está de fora a envolver-se nas questões políticas, ao menos locais, que afectam directamente os cidadãos. Os partidos são as estruturas que a Democracia prevê para a conquista do poder legislativo e executivo, não nos podemos dar ao luxo de prescindir de intervir neles.
Os partidos têm muitos vícios que impedem a adequada defesa dos interesses da população e desmotivam aqueles que pretendem de boa fé dar o seu contributo à vida partidária. Contudo, a ausência de participação é um fenómeno complexo que não consigo compreender completamente. O que leva um militante (alguém portanto com o poder de intervir dentro do partido) a evitar emitir a sua opinião, a prescindir do direito de explicitar a sua discordância? Nalguns casos a situação tem explicação simples.
- 1) Se não se trata de um “verdadeiro” militante, ou seja, se é alguém que foi inscrito por terceiros e a quem pagaram as quotas apenas para fazer número nas votações, é claro que não vai pronunciar-se nunca.
- 2) Se é alguém cuja vida profissional depende de nomeações políticas ou de uma rede de influências centrada no poder do partido, preferirá encostar-se à corrente dominante e não levantará ondas.
- 3) Se é alguém com aspirações a subir na hierarquia partidária através de uma cadeia de boas relações, mais do que pelo valor da sua intervenção, poderá escolher uma via discreta para tentar promover-se.
Mas quem não está nestas condições (estou totalmente seguro de que a maioria dos militantes não está), porque opta por não se expressar, ou pelo menos se inibe de o fazer? Veja-se como exemplo concreto o cenário actual de lista única para o PSD/Porto. Alguém terá dúvidas de que este unanimismo é artificial? Que há divergências internas profundas? Que muitos não se revêem nesta candidatura? No entanto, não sei de um único militante (um único!), além de mim, que se disponha a participar numa lista alternativa. Só avançarão quando tiverem esperança de vencer no curto prazo? (Sejamos realistas: com esta inércia a lista de Ricardo Almeida vai vencer em qualquer caso.) Acharão que o partido fica mais forte se, para o exterior, se fingir que há um consenso alargado interno? Terão vergonha de estar eventualmente isolados na sua opinião, receando uma votação que por diminuta lhes pareça humilhante? No último plenário (onde muitos militantes descontentes já nem foram) só eu, Miguel Braga e Amândio de Azevedo explicitámos discordâncias com a corrente dominante. É só inércia e desânimo?
Algo de muito mal vai no PSD/Porto, e o problema principal não é nos anunciados vencedores (esses estão activos, apesar de na minha opinião não cumprirem os requisitos mínimos para serem eleitos). A crise está é nos vencidos, ou melhor, nos que nem sequer chegarão a ser vencidos porque não se apresentam a lutar pelas suas ideias. Os partidos são o que fizermos deles. Se estivermos à espera de um D. Sebastião, bem merecemos a nossa triste sorte. É que nada nos falta a não ser determinação e clareza. Nem sequer se requer coragem, porque o que se arrisca é absolutamente mínimo em comparação, por exemplo, com o que arriscaram aqueles que trouxeram à Europa e a Portugal a paz e a democracia. É também por respeito para com esses, que nos legaram a liberdade de que hoje usufruímos, que não posso deixar de fazer o que estiver ao meu modesto alcance para revitalizar o PSD/Porto e incentivar outros a que façam o mesmo nos restantes partidos (existentes ou em projecto) onde a situação não me parece melhor. Por mim, estou certo de que o PSD/Porto, o verdadeiro, um dia renascerá. Afinal "we are the ones we've been waiting for".