De: TAF - "Notícias do PSD/Porto"

Submetido por taf em Domingo, 2012-01-15 01:01

Continuando o meu relato sobre as vicissitudes da estrutura local de um partido político (no caso o PSD, do qual sou militante), eis os desenvolvimentos. Sexta-feira à noite houve assembleia de secção ou, por outras palavras, plenário de militantes. As primeiras duas horas foram perdidas em beija-mão a Ricardo Almeida, o único candidato à presidência da Comissão Política Concelhia, uns mais convictos, outros visivelmente resignados. Isto depois de Ricardo Almeida reconhecer finalmente ter-se licenciado na Universidade Independente e fazer uma sucinta apresentação do manifesto eleitoral (paupérrimo). Um unanimismo de alforreca. Gente a bocejar nas cadeiras, literalmente. Eu também. Isto não é o PSD. O PSD não vem aos plenários, e depois tem o que merece... Nota muito positiva, contudo, para o presidente da Mesa, Lino Ferreira, que como sempre conduziu os trabalhos com grande imparcialidade e espírito democrático.

Quase todos os oradores faziam referências negativas, em abstracto, às "críticas nos blogs", aos "artistas do teclado", a propósito desta polémica. Não houve um único que mencionasse explicitamente este blog ou os seus participantes. Amândio de Azevedo, militante histórico, um dos mais idosos na sala, foi quem interrompeu este ambiente e trouxe a intervenção mais arejada. Foi como se, como alguém lá descreveu, estivesse um elefante na sala e todos fingissem não o ver até Amândio de Azevedo falar no "elefante". E insistiu veementemente, com grande elevação, para que se esclarecesse antes das eleições o caso da tentativa de inscrição irregular de 300 novos militantes. Passado algum tempo falei eu também, respondendo às indirectas que me tinham dirigido, apoiando Amândio de Azevedo e dando a minha opinião sobre o referido manifesto. Miguel Braga mostrou-se igualmente insatisfeito com a única candidatura, e nada mais de relevante aconteceu.

E assim vai, mal, o PSD/Porto. São precisos novos militantes, volto a insistir, no PSD e nos outros partidos todos. Se quiserem fichas de inscrição, é só dizer. ;-)

Aqui fica, abaixo, um ponto da situação sobre a polémica à volta de Ricardo Almeida.

1) Ricardo Almeida tem repetidamente publicitado o seu curriculum, no âmbito da candidatura à presidência da Comissão Política Concelhia, supostamente por ser meritório e motivo de orgulho.

2) Assim, declarou-se possuidor de 2 licenciaturas (uma em Engenharia do Ambiente, outra em Engenharia de Minas, sem pormenores sobre a universidade em que as obteve, o ano, ou a média), entre outras qualificações académicas.

3) No perfil LinkedIn declara apenas ter sido aluno da Fac. Engenharia da UPorto. Na altura em que recolhi a informação, acrescentava que isso teria sido entre 1993 e 1999. Entretanto apagou essa referência aos anos.

4) Tinham surgido na net dúvidas sobre as licenciaturas anunciadas, uma vez que nos registos da Faculdade de Engenharia da UPorto apenas figurava uma licenciatura concluída, obtida em 2011. Perguntaram-me aliás directamente se tinha informações adicionais sobre o assunto.

5) A forma mais transparente e leal de esclarecer a questão foi colocar as dúvidas claramente expressas no blog, avisando desse facto Ricardo Almeida (com cópia para Lino Ferreira, presidente da mesa da Assembleia de Secção) e convidando-o a dar as explicações que entendesse, se o entendesse, no mesmo local e com a mesma visibilidade. Assim tudo ficaria esclarecido.

6) Após insultos que me fez no Facebook por causa deste assunto, Ricardo Almeida afirmou ter concluído uma das licenciaturas numa universidade em Lisboa durante o seu tempo de deputado, sem entrar em detalhes. Disse ainda que nessa mesma universidade tinha sido posteriormente docente. Tudo isto foi publicado aqui no blog. Noutros locais e em comunicação com militantes (ver referências abaixo) declarou-se "professor convidado".

7) Alguns dos leitores do blog investigaram e descobriu-se referência num site do Ministério da C&T à actividade docente (que a nível universitário é obrigatoriamente reportada e portanto consta desta base de dados). Tratava-se da Universidade Independente (estava portanto descoberta a entidade da primeira licenciatura). Como actividade docente foi apenas uma hora por semana, sem regência das disciplinas em causa, somente nos anos de 2005 e 2006.

8) Relativamente à sua actividade profissional, verifica-se também pelo curriculum que apresenta no LinkedIn que teve sempre um trabalho remunerado (a tempo inteiro, tanto quanto é possível deduzir pela descrição) desde 1999 até ao presente, com um interregno de poucos meses em 2006 depois da saída da Assembleia da República (nada consta, terá eventualmente estado desempregado nessa altura). Desde 1999 foi sucessivamente deputado, director da Porto Lazer e presidente da Gaianima, tudo cargos de nomeação política e suportados por fundos públicos. Em paralelo terá então dado apenas uma hora por semana de aulas em 2005 e 2006.

9) Ricardo Almeida é sócio da Blueaegean desde 2008 (data da constituição - ver detalhes no site do Ministério da Justica)  e foi seu sócio-gerente (a tempo muito parcial, pois tinha emprego a tempo inteiro - presume-se - na Porto Lazer). A empresa tem por objecto social serviços de consultoria para os negócios e a gestão, e compra, venda e revenda de imóveis - dados disponíveis nesse mesmo site do Ministério da Justiça, explorado por leitores do blog e enviados para mim, que confirmei a autenticidade.

10) Na sequência da publicação de algumas destas informações n'A Baixa do Porto, tal como da sua resposta, Ricardo Almeida encarregou o seu advogado de me ameaçar com um processo judicial, pedindo-me segredo dessa ameaça.

Os pontos acima são o sumário do que se passou envolvendo directamente este blog. Para além disso, subsistem duas questões muito relevantes por esclarecer.

a) O que aconteceu às multas que Ricardo Almeida teve por excesso de velocidade, tal como pergunta Rio Fernandes? (Note-se que a gravidade do assunto não tem a ver com o facto de ter sido detectado em excesso de velocidade, mas sim com o facto de as multas não terem sido cobradas devido a prescrição e/ou impossibilidade de notificação por parte da polícia e tribunais, segundo notícias da imprensa não desmentidas.)

b) Amândio de Azevedo referiu-se em plenário de militantes do PSD/Porto ao processo de inscrição irregular de 300 militantes, em que terá havido falsificação de assinaturas. Quis saber se se confirmava ou não essa irregularidade e se tinham fundamento alegações de que Ricardo Almeida estaria envolvido na referida falsificação. Três pontos ficaram totalmente esclarecidos:

  • essa irregularidade verificou-se mesmo, o processo foi enviado para análise dos órgãos competentes (Conselho de Jurisdição, presumo), e essas inscrições estão suspensas – as pessoas em causa não votarão nas eleições internas marcadas para 27 de Janeiro;
  • até ao momento a Comissão Política de Secção não tem nenhuma prova de que Ricardo Almeida ou a sua candidatura estejam envolvidos na irregularidade, e portanto terão de ser considerados inocentes;
  • Ricardo Almeida nega terminantemente ter qualquer envolvimento em falsificação de assinaturas.

Um último ponto ficou por esclarecer devidamente: existem ou não averiguações ainda por fazer relativamente a este caso? Ou seja, já se esgotaram todas as hipóteses de investigação e nada se concluiu, ou falta ainda analisar indícios e provas? Na primeira hipótese o assunto estaria encerrado (houve irregularidade, mas não se apurou o responsável). Na segunda hipótese, não se compreende que o processo eleitoral continue sem que a análise do assunto esteja definitivamente encerrada. É muito relevante para o Partido saber se aquela candidatura tem algum envolvimento no caso. Também não se compreende que o candidato se disponha a ir a votos nessas condições sob suspeita.

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Posts sobre estes assuntos, documentando o que acima é afirmado: