De: JA Rio Fernandes - "Deputados voadores, lojas maçónicas e atentados à democracia"
Caro TAF,
Escrevi há pouco tempo a propósito dos perigos que enfrenta a democracia, especialmente em tempos de crise, quando (para quase todos) a ética e os princípios básicos de sã convivência democrática e tolerância pela diferença tendem a importar bem menos que um emprego, o dinheiro para sobreviver, ou até a proximidade a “quem manda”. A carta que recebeu fez-me lembrar uma carta que recebi há uns anos constituindo-me arguido por “difamar” Valentim Loureiro (não devia ter levantado suspeitas de relações pouco claras entre política, futebol e imobiliário); fez-me lembrar a coragem da mensagem de Daniel Deusdado aqui difundida há dias sobre como se controla a comunicação social (“grande” Rui Rio!), assim como a atitude firme de Marques Mendes e Francisco Assis face aos podres que ameaçavam PSD e PS. São precisos muitos mais como eles, mais que nunca.
Porque, de facto, isto vai mal, muito mal, quando o partido mais votado em Portugal promove os seus militantes a cargos públicos e privados depois tudo o que disse o seu presidente antes e depois de eleições; isto vai mal, muito mal, quando dirigentes de maçonaria se ligam à segurança máxima do país e a negócios privados; isto vai mal, muito mal quando a ideia de Ricardo Almeida à frente do PSD do Porto me faz até começar a achar que Rui Rio nem foi assim tão mau...
Face ao post aqui colocado com o texto do advogado do Sr. Ricardo Almeida e sendo este um espaço de liberdade e comunicação, onde sempre foi possível expressar opiniões, interrogações, críticas, sem ameaças nem intervenções jurídicas, invocação da honra pessoal e coisas do estilo, lamento muito o teor do texto e aproveito para perguntar ao Sr. Advogado do Sr. Ricardo Almeida o favor de nos esclarecer (militantes do PSD como TAF, independentes como a maioria dos leitores da Baixa do Porto, ou militantes de outros partidos como eu):
- o que aconteceu às multas do Sr. Ricardo Almeida, vulgo “deputado voador” que teve dezenas de multas por excesso de velocidade que não chegaram a ter consequência (de acordo com vários órgãos de comunicação social, nunca desmentidos);
- quanto tempo demorou o Sr. Ricardo Almeida a concluir um curso na Universidade Independente e qual o número de aulas que efetivamente frequentou em cada disciplina;
- se o Sr. Ricardo Almeida é ou não maçon e se sim ou não dirige a “Loja Porto” da chamada maçonaria regular, à qual pertencerá (dizem! olhe que eu não estou a afirmar nada!) o Sr. Marco António Costa;
- se o Sr. Ricardo Almeida tem alguma responsabilidade (como parece…) na entrada de novos militantes no PSD Porto de forma irregular (de acordo com jornal Público de hoje e declarações do ex-ministro PSD Amândio de Azevedo);
- se acha mal que um companheiro do Sr. Ricardo Almeida tenha um blog e possa emitir opiniões.
Ah… antes de me ameaçar com um processo por parte do Ministério Público, peço-lhe o favor de solicitar ao seu cliente para não se incomodar. Até porque seria bom que ele se habituasse a ler coisas menos agradáveis, porque a democracia tem destas coisas. Chamam-lhe diferença de opinião e debate crítico, coisa inabitual apenas em ditadura, onde discordar e opinar pode ser delito. É contra isso que o Sr. seu cliente deveria lutar, como militante de um partido democrata.
PS Uma boa notícia: por proposta do PS, o que aqui escrevi sobre a Bateria da Vitória teve (boas) consequências. A CM aprovou por unanimidade que o largo ao fundo da Rua de S. Bento da Vitória continue a ter usufruto público irrestrito. Até pode ser que a CMP / FDZHP ainda vão a tempo de conseguir reverter para posse pública o espaço desenhado por João de Almada no final do séc. XVIII. Até porque (parece que) quem acabou de comprar casa (bem) e espaço público, dito logradouro (mal), vai em breve vender o que comprou…