De: Pedro Figueiredo - "Para que servem as classificações, então?"

Submetido por taf em Sábado, 2011-11-05 02:17

Para que servem as classificações patrimoniais, então? Se é interessante, esta prorrogação dos processos pendentes de classificação patrimonial por parte do governo? É. Mas não é a mesma coisa dada a prática que temos em viver em Portugal...

Participei no Movimento Cívico pela Linha do Tua. Era para ser classificada. À última hora desclassificaram a Linha porque "não cumpria certos requisitos". Claro que não cumpria o requisito de não se localizar mesmo no sítio para o qual foi projectada uma inútil e monstruosa barragem. Ninguém tem coragem "política" para rasgar o respectivo contrato com a EDP, fiados vá-se lá saber em que "argumentos de interesse nacional". A Linha do Tua faz parte da minha infância. Não é uma questão ideológica.

Participei no Movimento pela Reabilitação do Bolhão. Após 20 anos (1992) do concurso público ganho pelo Arq.º Massena, não há agora dinheiro ("dizem") para o projecto possível assinado com o acordo do IGESPAR, depois de todas as tormentas que quiseram infligir a este património vivo, classificado e muito visitado pelos turistas... que não sabemos captar, para vergonha da CMP. (O que eles fotografam hoje no Bolhão é a vergonha de um edifício a cair). Sou comprador no Bolhão. Não é uma questão ideológica.

Participo no Movimento Mercado Bom Sucesso Vivo, porque "David contra Golias" foi ganho por David... Há um edifício mesmo ao lado - o Shopping do Bom Sucesso - que é ilegal e cuja demolição foi decretada por tribunais e ninguém o demole, por falta da tal "coragem política", apesar da ilegalidade. Ao Mercado do Bom Sucesso - edifício de reconhecida qualidade espacial interior - a sua classificação é usada para todas as hipocrisias: como "Património Municipal" só serve para as empresas sacarem descontos no IMT; como "Património Arquitectónico" não serve para nada. Já conseguiram, apesar da classificação, avançar com um monstruoso "projecto" que lhe destrói a espacialidade interior, desvirtua e expulsa os seus "habitantes" de 3 décadas... com a conivência de CMP, IGESPAR, silêncios governamentais, etc... E está de facto "classificado". De nada lhe serve.

De que serve então eu preocupar-me, perder o meu tempo e ganhar chatices, enquanto arquitecto, enquanto cidadão, enquanto "pessoa de esquerda"? Não serve de nada. É como as classificações: Não servem de nada, afinal. Classificar a zona do Carmo para, depois, não ter novamente "coragem" para retirar construções no meio do espaço público?... Construções fáceis de retirar, afinal elas são "amovíveis"... Lá estão. Continuam lá. Apesar da lei, apesar do IGESPAR, apesar de tudo.

E a classificação do Porto Património da Humanidade? 11 anos volvidos, o abandono não tem nome. Nem a CMP tem inteligência e vontade de "lançar a sua reabilitação". Só retórica e "Porto Vivo" de habitações a 200.000 euros. (Já as venderam? Às do Corpo da Guarda? Cada vez que passo por lá, as habitações parecem continuar fechadas. Não há luz. Não há cortinas...). Na sessão em que o Bloco de Esquerda se propôs censurar a CMP, foi argumentado por parte de quem não votou favoravelmente ser de pouco relevo para censurar "o facto de a CMP não apresentar publicamente os registos do património devoluto", o que é de lei e é absolutamente essencial á luz do que é necessário fazer no Porto... E ainda assim não é importante. Ninguém quer saber, Ninguém viu. "Eles" têm a maioria.

Para que servem as classificações, então? (Emigremos então, que se faz tarde.)

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Nota de TAF: por falar em Linha do Tua, Souto de Moura vai projectar central hidroeléctrica do Tua.