De: Daniel Rodrigues - "Polémicas ambientais à parte"
Convém focarmo-nos no essencial. Partindo dos números apresentados neste artigo, e assumindo que são uma boa aproximação (5,2x10^9€ em 50 anos) vemos que este investimento poderá render ao estado cerca de 100 milhões de euros/ano. Como assegurar que este montante será re-investido não em zonas do país já saturadas de investimento público, mas que beneficie a região que fornece esta riqueza ao país? Um reinvestimento directo nos municípios ao redor será uma forma de melhorar as condições de vida, em primeiro lugar, dos próprios trabalhadores, em segundo lugar das suas famílias e, finalmente, de todos os restantes habitantes directamente afectados pelos aspectos positivos, mas também negativos, da existência das minas. Sobretudo, e como o Pedro Figueiredo bem apontou, temos de estar conscientes que estes recursos têm um limite temporal, o que aumenta a responsabilidade de tornar sustentável a fixação de pessoas na zona.
Os munícipios fronteiros a Torre de Moncorvo são Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro, Vila Flor e Vila Nova de Foz Côa. Segundo os dados do INE,
Município | População2011 | População2001 | NUTS3
Alfândega da Fé | 5095 | 5963 | Alto Trás-os-Montes
Carrazeda de Ansiães | 6322 | 7642 | Douro
Freixo de Espada à Cinta | 3798 | 4184 | Douro
Mogadouro | 9587 | 11235 | Alto Trás-os-Montes
Torre de Moncorvo | 8583 | 9919 | Douro
Vila Flor | 6690 | 7913 | Douro
Vila Nova de Foz Côa | 7318 | 8494 | Douro
Total | 47393 | 55350
Falamos de 47.393 pessoas, depois de uma perda de cerca de 8000 pessoas nos últimos 10 anos. O investimento de 100 milhões por ano, representaria, 2110€/ano per capita, adicional. Não vale a pena? Então vejamos deste modo. Os únicos investimentos, desde o 25 de Abril, no território supracitado foram o IP2 e o IC5. Em termos ferroviários, fechou a Linha do Sabor, bem como a ligação Pocinho - Barca de Alva. Os únicos Centros Hospitalares distam agora 50km de cada concelho (mais que qualquer outro ponto do país). Ou seja, estas 50.000 pessoas (e eram bem mais anteriormente[1]), beneficiaram muito pouco, desde o 25 de Abril, do desenvolvimento forçado do resto do país.
A oportunidade única deste investimento da Rio Tinto terá resultados muito positivos se, conscientes da típica sangria do nosso território em prol das regiões litorais, formos capazes de contribuir de forma a que grande parte do contrato seja reflectido na própria região. O Porto beneficiaria, com um mecanismo de "spill-over". E seria uma grande lição a outra região que persiste num "spill-over" de direcção contrária. A meu ver, os 100 milhões de euros por ano poderiam resolver o problema infraestrutural crónico na região (sobretudo, transportes e saúde), abrir mais uma porta de ligação a Espanha para a Região Norte e beneficiar directamente as capitais de distrito que rodeiam a zona (Bragança, Vila Real, Guarda), também as mais afectadas pelo desinvestimento público.
Melhores cumprimentos,
Daniel Rodrigues
PS [1]: a população, em 1960, (assumindo dados da Wikipedia como correctos) era a seguinte, com a mesma ordem dos concelhos acima indicados(9672, 14340, 7288, 19571, 18741, 11834, 16209 = 97.655 hab), perto de 100.000 habitantes.