De: Luís de Sousa - "Casa da Música"
Penso que estamos todos de acordo quanto à necessidade de maior qualidade ao nível da gestão da paisagem e do urbanismo, porém não posso concordar com este menosprezar da obra de um dos autores mais prestigiados no panorama da arquitectura pós-moderna. Que qualquer um e nós se identifique com linguagens mais racionalistas ou mais expressionistas, até acho saudável porque como há poucos meses ouvi (com muito agrado até) o Arq. Souto Moura dizer, os arquitectos tendem a fazer percursos entre estes dois extremos, referindo até que após uma fase mais racional no início da sua obra se calhar a fase que se seguirá será mais expressiva e não tão assente na caixa euclidiana. Logo independentemente da linguagem devemos saber reconhecer o valor das obras e não dizer que o que não faltam são "imensos cubos e diamantes para a música por essa Europa fora". Parece até que existem edifícios com esta abordagem arquitectónica e com este cariz formal ao virar da esquina por esse mundo fora! É tentar vulgarizar o invulgar (tal com Rem Koolhaas fez com a sua "versão photoshop" dos azulejos portuenses na sala vip da Casa da Música).
Quanto a reconhecer o autor através da obra, acho que não é um ponto a favor nem contra o arquitecto, pois cada programa é distinto do outro, as condições proporcionadas pelos promotores nem sempre se assemelham e por fim o mais importante, aqueles que assumem a experimentação e a reinvenção do espaço através da arquitectura, de acordo com o contexto global em que este se encontra, muito provavelmente alteram o seu discurso formal ao longo de todo o seu percurso (só assim surge a evolução). O arquitecto Siza é disso um belíssimo exemplo, analise-se a sua obra na totalidade e vejam como ela é diversificada aos mais variados níveis em obras como a Casa de Chá da Boa Nova, Edifício "Bonjour Tristesse", Bairro de S. Vítor, Pavilhão de Portugal Expo 98, Museu Serralves, "Serpentine Gallery" e mais recentemente o Museu para a Fundação Iberê Camargo.
Peço desculpa se estou de certa forma os estou a maçar com esta minha posição sobre a Casa da Música e o seu autor, mas acho que estaria a ser desonesto se não defendesse aquele que daqui a alguns anos se tornará um dos mais fortes símbolos da cidade do ponto de vista arquitectónico e cultural.
Cumprimentos
Luís Sousa
P.S. Se alguém encontrar ou tiver uma imagem do projecto de Dominique Perrault para a Casa da Música agradecia que o divulgasse aqui no blog pois assim ficaria concluída a trilogia das propostas apresentadas (aqui vos deixo as de Rem Koolhaas e de Rafael Viñoly).