De: Cristina Santos - "A escada rolante é uma arte"

Submetido por taf em Sexta, 2006-08-25 12:58

Quem disse que degraus para pés de cinderela são maus ou são feios?! Porque é que um degrau pequeno que assusta aqueles que têm dificuldade de equilíbrio é um defeito do arquitecto e não do utilizador?!

Tanto eu como o Paulo Espinha só dissemos que as duas obras eram susceptíveis de grandes tombos, e será que nos dias que correm, um tombo não pode ser entendido como um efeito directo da arte que nos querem proporcionar?

O verdadeiro criador de obras de arte adopta um traço só seu, que se reconhece em qualquer parte do mundo, assim é Siza Vieira, as suas obras são como telas de imagens paradas no tempo, parecem longínquas e inanimadas, só povoadas por jogos de luz e sombra, os degraus fazem parte desses recortes, são os relógios solares do todo, ficam iluminados em metades perfeitas de acordo com o avançar do dia. Longe de mim tecer críticas a este criador.

Quanto à Casa da Música não é uma obra tão original assim, há imensos cubos e diamantes para a música por essa Europa fora, cada um adornado conforme as condições do país, é um orgulho para a nossa Cidade que o cubo esteja cá e não em Lisboa mas, se repararmos bem, vemos que a conjunção da arte do nosso elixir é mais uma harmónica economia, é linda, ainda bem que cá está, mas se olhar para ela não diz à partida - isto é uma obra de Koolhaas, ou diz?!

Agora, nos estádios o tamanho dos degraus não se deve à luz, nem sequer à esquadria perfeita, o que se passa ali é outro tipo de arte, a arte de acolher o maior número de pessoas num lugar tão acidentado e exíguo que ninguém se atreva a causar revelias. Bem analisado aquilo é arte, porque só a arte pode sair dos convencionalismos e da lei, não é contudo arte da arquitectura, mas sim a grande arte da engenharia.

Por fim, não sinto falta do bom senso nas obras de arte, até porque as obra de arte não tem passagem directa, servem apenas para olharmos para ela, para as descobrirmos sempre que estamos cansados do dia a dia.

Sinto falta do bom senso de que fala Paulo Espinha na arquitectura do dia a dia, na paisagem, no urbanismo, não é o bom senso de patamares ou degraus, (nem sempre o que está regulado é sinonimo de adequação às necessidades), é o bom senso na gestão dos espaços verdes, do ar, do espaço livre – é o bom senso elementar que, quer queiramos ou não, dita desde os primórdios a nossa qualidade de vida.