De: Vítor Vieira - "A propósito de: TAF - «Freguesias: a minha proposta»"

Submetido por taf em Terça, 2011-10-18 22:38

Cito

"3 - A fusão das 4 freguesias de Centro Histórico é importante:

  • Um cenário que separasse estas 4 freguesias, fundindo-as isoladamente com outras fora do Centro Histórico, prejudicaria de forma muito grave a gestão do próprio Centro Histórico, que passaria a estar dividida por várias autarquias, à revelia da unidade urbanística e sociológica que reconhecidamente existe.
  • Já existem várias organizações e estruturas associativas que actuam no Centro Histórico como um todo; qualquer cenário que separasse as 4 freguesias em causa seria violentamente perturbador da harmonização que naturalmente foi surgindo também por esta via.
  • Como morador no Centro Histórico, e aí empenhado em inúmeras iniciativas comunitárias em colaboração com muitas instituições locais, posso testemunhar a vontade quase consensual da população de que, havendo fusão de freguesias, se agreguem as 4 do Centro Histórico.
  • Não há diferença relevante de identidades entre os habitantes (os que sobram…) das várias freguesias do Centro Histórico; essa diferença é muito menos marcada do que a existente no interior de outras das actuais freguesias. Como exemplos comparativos, constatem-se os contrastes entre a "Foz Velha" e a "Foz Nova" mesmo numa freguesia pequena como a Foz do Douro, ou ainda a enorme variedade de gentes e espaços dentro de Paranhos ou dentro de Campanhã."

Opinião respeitável. Contudo, como conhecedor do Centro Histórico e em particular de Miragaia, permito-me duvidar veementemente da "vontade quase consensual" que alega. Aliás, no CH, raramente há consenso... mesmo em cada Freguesia. Isto de traçar divisões administrativas com "régua e esquadro" faz-me lembrar muito a divisão de África pelas potência coloniais europeias, resultando em linhas muito direitinhas mas, na verdade, um completo desastre. Parece-me que só envolvendo as populações em debate aprofundado (e até agora nada há em concreto) é que poderemos chegar a alguma conclusão. Mesmo porque não me parece que sejam os fracos orçamentos e as diminutas responsabilidades hoje entregues às Juntas do CH que possam perturbar algo no caos financeiro em que os sucessivos governos (sempre dos mesmos) nos colocaram. Pelo contrário: se as verbas fossem reforçadas e as competências alargadas, estou seguro de que veríamos um muito maior dinamismo dessas JFs.

Permito-me lembrar que o CH só está despovoado porque as sucessivas maiorias municipais foram tratando de atirar com os seus moradores para fora, na sequência de desmoronamentos evitáveis, de fogos suspeitos, de insalubridades desnecessárias, de anúncios de requalificações sempre adiadas. Exemplos?

Na Rua da Bandeirinha: na sua parte mais estreita, junto à escola, não há passeios e o pavimento está muito escorregadio, valendo apenas o corrimão que a Junta, na década de 80, ali colocou contra a vontade da Câmara. Precisava agora de uma pequena intervenção: podia ser "picar" os paralelos, mas podia também ser colocar ali uma capa de pavimento betuminoso (vulgo "alcatrão"). A Câmara fê-lo? Não: disse que não havia verba para tal. E as pessoas continuam a cair e a partir pernas. Entretanto, no Jardim do Carregal, também em Miragaia, houve remodelação, mas havia problemas de drenagem (antecipáveis). Solução da Câmara? Alcatroar todos os arruamentos do jardim (aqui já houve verba para alcatrão). E ainda por cima a situação não se resolveu, como o General Inverno provará.

Outro exemplo: na década de 80, a Junta (mais uma vez, e também contra a opinião da Câmara) montou, junto à Igreja, um Posto de Enfermagem. Com a construção de um prédio (feio como o demo!) naquele local, o Posto foi remetido para o Largo da Alfândega, para uma construção toda bonitinha e que rapidamente se revelou um autêntico passador. A Câmara corrigiu as deficiências para que a Junta pudesse continuar a prestar um serviço à população? Não. "Não havia verba"...

Só mais um exemplo: durante o consulado de Fernando Gomes, o seu vice teimou em construir um "bar" no Miradouro das Virtudes, e queria colocar lá também um mural oferecido por uma empresa farmacêutica ("Azul", agora no Largo da Alfândega). Foi avisada que isso era errado, pois criava uma barreira para a zona de esplanadas existente, e nada trazia de vantajoso, mas insistiu. Resultado: como nunca ninguém quis "pegar" num edifício que custou bem caro mas era completamente inadequado para os fins pretendidos, aquilo acabou por ser demolido. Se calhar, por quem o construiu, ganhando "a dois carrinhos".

E para não dizer que só falo de Miragaia, basta recordar o Elevador da Lada. Aquilo serve o quê? E quanto custou?

Ora abóbora! Estas "cabecinhas pensadoras" que acham que as Freguesias são algo desprezível que pode ser fundido e misturado como uma salada de frutas deveriam estar mais atentas ao chão que pisam.

Cumprimentos
Vítor Vieira