De: Cristina Santos - "O Dragão, os Rolling Stones e o Metro"
Meus caros
Cá estive presente no concerto dos Rolling Stones, uma encenação multimédia indescritível. Antes do espectáculo, os meus primeiros pensamentos foram para a possibilidade de existir um atentado tal era o número de concentração de pessoas. Quando estava sentada a minha preocupação voltou-se para os tumultos e para os delírios das massas, passei no mínimo 10 minutos a medir o estreitamento das bancadas, as entradas e as pessoas capazes de impedir uma saída de emergência.
É ridículo, mas é que entre os meus joelhos e as cadeiras da fila seguinte não passava uma pessoa, além de que os degraus para a saída parecem desenhados pelo Siza Vieira, só cabem pés de cinderela…
Depois acalmei e comecei a pensar como é que os estrangeiros tinham chegado ali, se não houve praticamente informação que os orientasse na cidade, não havia placas, não havia roteiros na Net, não havia publicidade e até os noticiários pareciam reprimidos na prestação de informação. Mas isso tambem não interessava muito, afinal não era propriamente o Rock in Rio, eles tinham chegado e estavam ansiosos pelo início.
Foi então que entrou o Mick Jagger, media uns 10 centímetros do lugar onde eu estava, nem gosto nada dos trejeitos do Homem na televisão, mas ele acarreta uma nostalgia, desperta tal sentimento nas massas que tudo se sentou extasiado.
Uma entrada fabulosa… tinham um palco que era uma espécie de prédio chinês com 3 andares e ao centro um ecrãn 3D, os artistas em completa sintonia com as câmaras e holofotes deram um espectáculo de luz e movimento cronometrado ao milímetro, cada um sabia onde se colocar para ser projectado para uma dimensão de 5 vezes o seu tamanho normal.
A música, as músicas todos as conhecemos, faltou o Angie, mas a música ali era o menos importante, aliás eu na bancada poente só reconhecia o som após este ser entoado pelos espectadores, o Mick Jagger propriamente dito ouvia-se mal.
Fenomenal era que do palco principal se estendia uma espécie de passadeira até ao centro do Relvado, supunha eu que era para o cantor correr, tipo Axl Rose, matava-me de rir só de pensar que o Homem ia correr aquilo tudo e depois ia ter uma crise de asma, mas não, aquele tapete era para levar parte do palco até ao relvado, fantástico, pareciam exíguos no meio dos espectadores.
No fim… foram-se embora, mas antes rebentaram dois enormes foguetes e a boca vermelha foi expelida do meio do tal prédio chinês, luzes, movimento sincronizado e consequentemente uma vibração das bancadas que me lembrou o exército francês.
Quando reparei, a multidão já se tinha sumido e os Rolling não voltaram, fiquei ali a admirar a grandeza e a ousadia do nosso Estádio do Dragão, a imaginar que daqui a milhares de anos alguém pode ficar embasbacado com o nosso poder construtivo.
Dirigi-me para o Metro, julguei que no regresso não teria que passar por barreiras de segurança para verificar a validade do meu andante, mas enganei-me, a Metro do Porto é uma entidade rigorosa, bloquearam as saídas, conferiram os andantes e fizeram uma espécie de cordão que impedia as pessoas de descerem para as estações.
De qualquer forma foi fácil, entre amassos e calcadelas lá entrei no 2º metro, saí na Trindade e fui para casa porque não havia nada de jeito a apoiar o evento, talvez na Ribeira houvesse prolongamento, mas a cidade vazia à noite até me soube muito bem.