De: Pedro Figueiredo - "A Praça de Lisboa, no Porto…"
Concordo com as perplexidades do Alexandre Burmester, às quais acrescento:
Já aqui houve um mercado, chamado de Mercado do Anjo. Também já houve aqui uma galeria comercial falhada por falta de clientela… a mesma clientela que subia e descia a Rua dos Clérigos e as outras ruas adjacentes entrando nas lojas que ainda hoje subsistem vigorosas e que sempre ignorou de forma magistral o “interior” do “Clérigushopping”… Nesta zona, o público não usou nunca da forma “concebida pelo projectista” os percursos alternativos por este construídos, no que se terá revelado num falhanço de teorias-práticas ensinadas em escolas como por exemplo a FAUP, onde eu tirei Arquitectura… À altura do meu curso, propostas correntes na disciplina de projecto eram propostas tipo “Clérigushopping”… Percursos alternativos à Rua Corredor, edifícios semi-enterrados com cobertura plana e estética “minimalista” para “não chocar” com as pré-existências antigas, etc… Com uma proposta assim obtinha-se em geral boa nota a projecto na FAUP dos anos 90…
A prática do “Clérigushopping” veio demonstrar alguma ingenuidade e “retórica” talvez desgarrada da vida da Rua neste tipo de pensamento um pouco “anti-urbano” ou aparte-o-urbano, numa zona tão demasiado urbana, tão demasiado construída, tão-demasiado comércio tradicional de rua-portas-abertas, tão demasiado Rua-Corredor, tão demasiado Porto - como - ele - faz – sentido - com - lógica - de - quarteirão… talvez demasiado evidente para que a tal solução-tipo-FAUP do “Clérigushopping” desse resultado… E não deu, não havia curiosidade dos peões em usarem os caminhos alternativos desenhados para tal, os motivos não eram suficientemente fortes, não havia apelo urbano, nem visual, nem físico, nem real, tão minimalista o desenho, afinal quando deveria ser urbano-tradicional e construído – digo eu…Daí o “Clérigushopping” ter sido um vazio… e a zona já me parece bem “cheia de vazios com sentido” para que se volte a repetir um vazio talvez ainda sem sentido… como o espaço que ganhou o 1º prémio deste concurso parece querer repetir… Não haverá talvez aqui o gesto construtivo clássico e arquitectónico que o sítio precisa(!)
Naquela zona existe: Um vazio que faz sentido frente à Cadeia da Relação – afinal os melhores jogos de futebol da miudagem fazem-se nesse “campo” / Um vazio que faz sentido frente aos Leões, muito comummente usado pela população “em trânsito” / Um vazio que faz sentido que é o Jardim da Cordoaria – com vários usos, embora também com vários problemas / Um vazio que faz sentido na Praça de Parada Leitão recentemente esvaziado de algum sentido quando foi “enchido” de aquários não-portáteis disfarçados ao nível da argumentação de amovíveis… Para a sua remoção o poder público tem vergonha em usar o seu legítimo poder sobre os espaços públicos, fraco poder.
Noutras zonas próximas, questões semelhantes se têm colocado: Siza densificou com vários volumes pontuais em que remata as malhas incompletas na pedreira-ferida da Avenida da Ponte, no seu magnífico projecto para a zona da Sé, ainda não construído e metido na gaveta de Nuno Cardoso. / Távora optou por reconstruir a Torre dos 24, repondo a densidade certa da cidade medieval naquele ponto / …Na mesma zona onde, décadas antes, Viana de Lima ordenara a “limpeza” das construções medievais donde naturalmente emergia um edifício como a Sé Catedral, envolto em malha densa, para em vez do construído, projectar o Terreiro da Sé, para criar um alargamento de vistas, que afinal resulta em menor imponência… alargamento artificial numa zona de densificação tradicional. / Na Praça de Lisboa, que o poder da habituação a vermos as fachadas das ruas e a magnífica fachada lateral dos Clérigos através do vazio… não iniba os projectistas de fazer cidade construída naquele sitio.
Onde já houve mercado, eu construiria um novo mercado. Talvez um novo quarteirão triangular repleto de lojas para as ruas, com ou sem arcadas, talvez 3 ou 4 pisos heterogéneos, talvez no meio, um mercado tradicional de frescos novo… Municipal, para albergar as vendedeiras escorraçadas do magnífico mercado do Bom Sucesso. Ali mesmo, ao lado do Hotel – Cardosas - Five – Stars, hotel aqui, mercado popular ali, qual “Novo Bom Sucesso”, mas com sentido Urbano, desta feita. Mas como não concorri, racho lenha.