De: Alexandre Burmester - "As ondas batem na costa, umas são amarelas, outras principalmente."

Submetido por taf em Quarta, 2011-08-03 23:51

Confesso que quando vi anunciado este concurso pensei que poderia ter a sua piada ver surgir algumas propostas para o local, muito embora o achasse pouco pertinente uma vez que existe um projecto com sentido já aprovado e em construção. Muitos outros locais da cidade abandonados e em mau estado, bem poderiam por isso ter sido preferidos à Praça de Lisboa para um evento desta natureza. Achei entre outras coisas que trazia a discussão da cidade para o plano das ideias desenhadas e dos conceitos de Arquitectura, o que aliás se pode ler na Acta do Júri: «teve como objectivo provocar um amplo debate, não apenas em torno deste espaço paradigmático da cidade do Porto, mas sobretudo, em torno do processo de reabilitação urbana “enquanto projecto partilhado e informado, participado e discutido”. Apostando no modelo do concurso de ideias, como instrumento democrático de participação nas decisões políticas, esta iniciativa procurou afirmar as vantagens do debate de ideias e do envolvimento da comunidade nos processos que conduzem a cidade.»

Qual o meu espanto quando outro dia ao consultar o site do concurso onde se anunciam os trabalhos premiados e vejo os respectivos trabalhos e as conclusões do Júri:

«Assim, o número de propostas recebidas (117, provenientes, para além de Portugal, de países como o Japão ou o Brasil, e enviadas por arquitectos, designers e cidadãos em geral), demonstrou uma vontade clara de participação e mobilização. Mas revelou também, uma certa avidez pela ‘solução arquitectónica’ e um certo formalismo, que produzindo respostas/imagens possíveis, não resultaram, na sua maioria, de um pensamento crítico e informado sobre o sítio/processo em causa, promovendo não raramente modelos/linguagens convencionais e importados. Porque não se tratava tanto de escolher entre imagem a ou b, mas entre estratégias capazes de identificar problemas, colocar questões, ensaiar respostas criativas e mobilizadoras, tanto do sítio em questão como da própria cidade. Neste sentido, foram seleccionadas cerca de 30 propostas que se revelaram pertinentes para um debate a prosseguir futuramente. E deste grupo, 3 mereceram destaque pelo suporte crítico e pela criatividade que evidenciaram, mas também pela capacidade de formular novas dinâmicas de espaço público e de envolvimento da comunidade. As 3 propostas premiadas partem da ideia de “vazio” reutilizado, e não de edifício camuflado de “vazio”, que constituiu a resposta mais comum e mais óbvia para a maioria dos concorrentes.»

1º Lugar

Primeiro prémio


2º Lugar

Segundo prémio


Mas afinal onde estão as vantagens dos debates de ideias? Onde estão as propostas pertinentes, capazes de criar um diálogo com a cidade? Será que o debate de ideias, a Discussão Pública pertinente para a cidade e para a vida dos cidadãos centra-se neste “vazio reutilizado”? Afinal não eram ideias de Arquitectura que se pretendiam, mas antes de conceitos intelectuais de linguagem hermética para uma discussão democrática e popular.

Alexandre Burmester

--
Nota de TAF:

"- Ora temos aqui um espaço vazio, o que podemos fazer com ele?"
"- Solução: vamos deixá-lo como espaço vazio para que as pessoas possam pensar no que fazer com ele."

Que fixe. Estava a ver que ninguém falava nisto. Claro que concordo com o Alexandre.