De: Alexandre Burmester - "As ondas batem na costa, umas são amarelas, outras principalmente."
Confesso que quando vi anunciado este concurso pensei que poderia ter a sua piada ver surgir algumas propostas para o local, muito embora o achasse pouco pertinente uma vez que existe um projecto com sentido já aprovado e em construção. Muitos outros locais da cidade abandonados e em mau estado, bem poderiam por isso ter sido preferidos à Praça de Lisboa para um evento desta natureza. Achei entre outras coisas que trazia a discussão da cidade para o plano das ideias desenhadas e dos conceitos de Arquitectura, o que aliás se pode ler na Acta do Júri: «teve como objectivo provocar um amplo debate, não apenas em torno deste espaço paradigmático da cidade do Porto, mas sobretudo, em torno do processo de reabilitação urbana “enquanto projecto partilhado e informado, participado e discutido”. Apostando no modelo do concurso de ideias, como instrumento democrático de participação nas decisões políticas, esta iniciativa procurou afirmar as vantagens do debate de ideias e do envolvimento da comunidade nos processos que conduzem a cidade.»
Qual o meu espanto quando outro dia ao consultar o site do concurso onde se anunciam os trabalhos premiados e vejo os respectivos trabalhos e as conclusões do Júri:
«Assim, o número de propostas recebidas (117, provenientes, para além de Portugal, de países como o Japão ou o Brasil, e enviadas por arquitectos, designers e cidadãos em geral), demonstrou uma vontade clara de participação e mobilização. Mas revelou também, uma certa avidez pela ‘solução arquitectónica’ e um certo formalismo, que produzindo respostas/imagens possíveis, não resultaram, na sua maioria, de um pensamento crítico e informado sobre o sítio/processo em causa, promovendo não raramente modelos/linguagens convencionais e importados. Porque não se tratava tanto de escolher entre imagem a ou b, mas entre estratégias capazes de identificar problemas, colocar questões, ensaiar respostas criativas e mobilizadoras, tanto do sítio em questão como da própria cidade. Neste sentido, foram seleccionadas cerca de 30 propostas que se revelaram pertinentes para um debate a prosseguir futuramente. E deste grupo, 3 mereceram destaque pelo suporte crítico e pela criatividade que evidenciaram, mas também pela capacidade de formular novas dinâmicas de espaço público e de envolvimento da comunidade. As 3 propostas premiadas partem da ideia de “vazio” reutilizado, e não de edifício camuflado de “vazio”, que constituiu a resposta mais comum e mais óbvia para a maioria dos concorrentes.»
1º Lugar
2º Lugar
Mas afinal onde estão as vantagens dos debates de ideias? Onde estão as propostas pertinentes, capazes de criar um diálogo com a cidade? Será que o debate de ideias, a Discussão Pública pertinente para a cidade e para a vida dos cidadãos centra-se neste “vazio reutilizado”? Afinal não eram ideias de Arquitectura que se pretendiam, mas antes de conceitos intelectuais de linguagem hermética para uma discussão democrática e popular.
Alexandre Burmester
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Nota de TAF:
"- Ora temos aqui um espaço vazio, o que podemos fazer com ele?"
"- Solução: vamos deixá-lo como espaço vazio para que as pessoas possam pensar no que fazer com ele."
Que fixe. Estava a ver que ninguém falava nisto. Claro que concordo com o Alexandre.