De: António Alves - "Resposta parcial a José Silva"
Em jeito de resposta reproduzo o texto de um artigo da minha autoria publicado no jornal Grande Porto Online como membro da Comissão Coordenadora do MPN. Em relação à Linha Porto - Aeroporto - Braga - Vigo o que o MPN propõe não é nenhum TGV mas sim uma via ferroviária mista, moderna e funcional, que aproveitará partes da actual Linha do Minho e que nos parece mais do que suficiente para os objectivos a alcançar
O Norte e o TGV
O General Loureiro dos Santos, o advogado Garcia Pereira e o Clube Via Norte escreveram artigos de opinião onde desmontam o argumento da prioridade e importância da projectada ligação TGV Lisboa–Madrid por Badajoz. Cada vez mais gente idónea e preocupada com o futuro do país denuncia o logro que nos têm tentado vender.
A esparrela que o centralismo estendeu a algumas personalidades e instituições do Norte foi a famosa disposição da rede em Pi deitado que continha, entre outras, a Linha Aveiro-Salamanca. Sendo esta rapidamente esquecida, o fantástico Pi viu-se reduzido a um pobre L de Lisboa. Hoje já nem o L sobrevive. Tudo se resume a uma ligação directa de Lisboa a Badajoz. Apesar do partido único (PS+PSD) nos dizer que à luz das dificuldades actuais tudo está em “avaliação”, ela continua a ser construída à socapa mobilizando verbas monstruosas com o silêncio cúmplice do centrão que nos desgoverna. O governo já tentou vergonhosamente por duas vezes desviar os fundos da Linha Porto-Vigo para a Linha Lisboa-Badajoz.
Neste momento de penúria financeira impõe-se reequacionar estrategicamente toda a questão da nova rede ferroviária e estabelecer definitivamente aquelas que devem ser as nossas prioridades: a estruturação do eixo estratégico para Portugal que vai da Corunha à cidade de Setúbal – o Eixo Atlântico do qual faz parte a ligação Porto-Braga-Vigo; e o escoamento de mercadorias para a Europa via eixo Irun–Salamanca. Para as mercadorias, num país com as nossas limitações financeiras, a melhor opção será recuperar, reformular e modernizar as ligações já existentes: Linha da Beira Baixa, Linha da Beira Alta (com um novo ramal Aveiro-Viseu) e Linha do Douro (que liga Leixões a Salamanca). Urge criar um plano estratégico para a mudança da bitola ibérica para a bitola padrão das linhas europeias.
Os TGV, que só transportam passageiros, não nos ligam à Europa: com o traçado proposto, ligam apenas Lisboa a Madrid e deixam mais de metade dos portugueses e da economia nacional de fora. Pior, esta ligação ignora a região mais exportadora (Norte) e a que mais tem contribuído nos últimos tempos para o equilíbrio da balança de transacções. Ninguém de Braga percorrerá 350 km de comboio em direcção a Lisboa, para depois efectuar mais 600 km até Madrid, quando se encontra a escassos 500 km da capital espanhola. A norte do Mondego vivem 5 milhões de portugueses e Madrid está à latitude de Aveiro, não de Lisboa. Estamos perante mais uma megalomania cara e provinciana tal como o sempre tão incensado Porto de Sines, que há 40 anos não cumpre as enormes promessas sobre as quais foi construído apesar dos rios de dinheiro que já consumiu.
António Alves