De: Cristina Santos - "Perfis"
Inclino-me a concordar, e bastante, com António Alves quando diz que o cliente alvo terá um perfil: “ideologicamente comprometido com a recuperação urbana, de mentalidade e modo de vida mais ligado às artes e actividades criativas”. A Baixa não tem condição de bairro: não oferece um colégio de renome nas proximidades, hipermercado, garagem, jardim, parque infantil. Oferece sim, uma excelente rede de transportes públicos, universidade próxima, animação, arte, entretenimento, sendo toda ela um postal histórico, capaz de responder com poucas alterações às necessidades de um mercado, que a aprecia exactamente pela sua característica histórica.
O estrangeirismo de voo, que aplicam à reabilitação, o Tiago e o António, o termo low cost, traduzia-o para sustentabilidade social. Ao não demolir, estamos a poupar toda a nossa periferia, logo incentivamos o aflorar de outros desenvolvimentos económicos, beneficiamos o meio ambiente, criamos qualidade de vida. Ao continuar com a madeira, com a pedra, com intervenções leves, estamos criar mais-valias, a preservar bens únicos. Ao intervir com impacto mínimo estamos a gerar dividendos através da economia. Ao juntar aos habitantes, que são tão poucos, novos habitantes, jovens, com possibilidades de terem um futuro brilhante, com sensibilidade, criativos, com noções claras de preservação tanto da economia como do meio ambiente, estamos a criar um futuro mais risonho. Logo, criamos um resultado favorável às empresas a longo prazo, à economia, através de mais ganho social. Low cost, custo justo, o produto corresponde ao valor, sustentabilidade.
Um investidor que investe para demolir, para reconstruir, com o custo que tal acarreta, custo que recai em toda a sociedade, para apresentar um produto T2 igual ao que existe por toda a parte, não está com certeza a fazer um bom plano de investimento, está sim a criar custos elevados para todos nós, principalmente custos de insustentabilidade social e ambiental. Portanto, além de já por si inflacionado, o custo final é muito superior ao que podemos pagar, é um engano, não é sustentável.
Quanto à política, tento não lhe dar assim tanta importância. A política entra "normalmente" na análise de negócios, como condicionante e neste caso seria: a burocracia, impostos, instabilidade, governação pouco atractiva no mercado comum e excesso de regulamentação. Sei que têm dificuldade em acreditar, mas tenho alguns anos na reabilitação, e pude ver muitos prédios reabilitados para os que lá estão, e para os jovens também, com um enorme esforço financeiro por parte da nossa Cidade. É claro que foram muitos anos de abandono e é muito difícil resultados palpáveis, é até frustrante, desesperante. Podia ter sido feito mais com a Porto Vivo? Creio que sim, que lhe podemos apontar uma má visão estratégica, uma visão demasiado focada em hipotéticos ganhos rápidos, pouca visão de poupança, falta de sustentabilidade, factores que afastaram os pequenos investidores, geraram ilusões estapafúrdias nos pequenos proprietários e fizeram espanto ao mercado internacional ao desperdiçar a sua vantagem competitiva. Mas é a minha opinião.
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Cristina Santos