De: Nuno Oliveira - "O Encerramento da Linha de Leixões"
Foi anunciado o encerramento da Linha de Leixões, frequentemente discutida aqui, normalmente por causa do seu potencial para a AMP face ao subaproveitamento de que foi (é!) vítima. Esta decisão unilateral tem o contorno particularmente grave de ignorar sistematicamente os autarcas locais, com os quais deveria estabelecer a eficiência do serviço; dos (poucos) utentes na sua forma actual (a "quarto de gás") e na ausência de qualquer tipo de discussão pública. Uma decisão-expresso da Calçada do Duque para o Porto, sem paragens.
Com cada anúncio deste género, José Benoliel é o encarregado da missão cada vez menos discreta (um carrasco nunca é subtil) de desmantelar a ferrovia portuguesa, após passagem pela extinta Rodoviária Nacional e ter já encaminhado a CP Carga no mesmo sentido, martelando na debilidade do moribundo a seu cargo de modo a amaciar-nos para sua aniquilação e/ou venda (é um pormenor indiferente). Como está adiantado o objectivo principal, JB concedeu-se a si mesmo, em ano de prejuízos recorde, um aumento de 52% no vencimento. Parabéns atrasados.
Contrastando drasticamente com a qualidade dos trabalhadores que estão nos comboios diariamente, a desastrosa gestão da CP tornou-a na empresa que tem o maior número de cargos de chefia por trabalhador e que funciona como uma espécie de subsídio de desemprego para Boys & Girls na reserva. Nas decisões anunciadas nos últimos dias estão muitas das pérolas da cartilha de gestão à portuguesa, perdão, à Tuga: a competitividade faz-se pelos cortes salariais e de postos de trabalho, não no aumento de produtividade e subida de nível dos recursos humanos; quando algo corre menos bem ou pede trabalho fecha-se ou declara-se falência o mais rápido possível, sem consultas ou análises; para se aumentar rendimentos não se angariam clientes, basta subir o preço e já está; não se valoriza o marketing para "roubar" mercado (a CP alguma vez teve uma campanha?) ou a satisfação do cliente (quem?), e deita-se mesmo muito dinheiro fora a brincar aos gestores.
Por isso prevejo uma pedrinha de carvão no sapatinho de José Benoliel nesta quadra, e também no nosso, se permitirmos a erosão contínua da nossa ferrovia a contra-corrente do resto do mundo, que se apercebe do seu valor estratégico para metas ambientais e energéticas e, sobretudo, como alternativa económica, eficiente e segura à rodovia. O artigo fala em revolta: é bem-vinda.
Boa semana