De: Luís de Sousa - "Projecto de pai incógnito"

Submetido por taf em Segunda, 2006-08-07 13:27

Se a possibilidade que o Pedro Aroso aqui mencionou em relação ao concurso da Quinta do Covelo se converter numa realidade (obscura como o céu que teima em pairar sobre a cidade nesta época de incêndios), então estaremos perante um insólito no que diz respeito à dignidade e à ética profissional da classe dos arquitectos.

Senão vejamos o seguinte cenário: as ideias seleccionadas pertencem "a arquitectos de bancada" que não se encontram inscritos na Ordem, logo sem habilitação legal para projectar, e que por mero palpite participam e as suas "ideias" são as que mais agradam ao júri. Quem assume a autoria do projecto? Os três primeiros classificados? (que forneceram os ingredientes para a caldeirada de ideias) Um qualquer estagiário que se encontre na Câmara? (que se vê assim relegado para o mero papel de tutor legal de um projecto que não é seu com ideias implícitas com as quais não concorda, ocorrendo assim a destruição de todos os sonhos que alimentou desde que por escolha ou fatalidade a arquitectura passou a fazer parte da sua vida) Ou será a Câmara a assumir a autoria do projecto? (surgindo assim um novo enquadramento para o exercício da arquitectura, assente na liderança do poder político local).

Pois bem, espero para ver o que ocorre. Qual a posição que a Ordem, que tal como o Pedro afirma não defende os interesses dos seus membros como devia, irá tomar em todo este processo. E se os Arquitectos de uma vez por todas perdem as estribeiras e assumem realmente a defesa da profissão com uma manifestação incisiva de desagrado pelo desrespeito sobre uma das mais importantes faculdades do homem, a de recriar a realidade física que o rodeia.

Cumprimentos
Luís de Sousa

P.S. Penso que arquitectos conscientes, formados, que como vocês aqui divulgam e defendem as vossas políticas para um desenvolvimento sustentável da cidade, deviam cometer a "loucura" de participar no concurso para ganhar, pois o bom nome da profissão não deve ser manchado com brincadeiras deste tipo, de considerar o acto de projectar uma coisa acessível ao comum cidadão, sem formação específica (senão também eu quero ser cirurgião plástico, afinal até tenho sentido estético, conheço os cânones de beleza de várias civilizações para além de ter estudado dissertações filosóficas sobre o conceito de belo).