De: Luís de Sousa - "Ordem nas Ideias"

Submetido por taf em Sábado, 2006-08-05 16:26

O concurso quanto a mim não é de ideias, é de programa!

A verdade é que a Câmara não tem programa definido para a requalificação da Quinta do Covelo, procurando através de um concurso de ideias, que ninguém ainda percebeu muito bem como se processa e qual a finalidade, chegar a um programa que poderá ser a base da eventual realidade pretendida para o dito espaço.

A ideia não é mal intencionada, porém o molde de aplicação não é o ideal. Quando se fala na necessidade de dar oportunidade a todos de participar na discussão e na construção da cidade, pretende-se a possibilidade de em sede própria se proceder a uma discussão racional e faseada de vários reptos lançados pela Câmara na qualidade de entidade promotora do projecto. Emitidas, ouvidas e discutidas essas opiniões provenientes dos diversos actores sociais que juntos formam a Polis ou até a Metropolis, procede-se então à elaboração consciente, convicta e coerente de um programa base que sustente um posterior concurso público de arquitectura. Na minha opinião esta atitude já mostra um avanço em relação ao direito da livre concorrência entre arquitectos por parte da Câmara, contudo nos moldes menos indicados.

A Ordem dos Arquitectos com a sua intervenção, também ela bem intencionada, vem de certa forma dar uma machadada na formação dos políticos em relação ao conceito de concurso público de arquitectura. Porque quando falam na obrigação de constituição de equipas multidisciplinares por parte do arquitecto concorrente para ter acesso ao concurso, estão a proteger os grandes gabinetes, que têm consultores permanentes nas mais variadas especialidades, e a barrar o acesso aos jovens arquitectos que vêem a sua participação fortemente condicionada com a obrigatoriedade de encontrar consultores nas mais diversas áreas que se predisponham a consigo participar num concurso que à partida não sabe se ganha, ou se mesmo que ganhe se concretiza, pois com a mudança da cor partidária ou do lobby defendido pelas pessoas que conduzem os destinos autárquicos, o seu projecto pode ser relegado para a gaveta ou então ver-se anulado com um novo concurso para o mesmo problema, como já ocorreu no nosso País.

Os concursos públicos não devem ter como finalidade a apresentação de um projecto de execução como muitos autarcas apelam, devem sim escolher o melhor conceito dos mais diversos pontos de vista (ambiental, económico, sociológico, antropológico) e então contratar o arquitecto vencedor para proceder à execução do projecto.

Ou acham que no concurso por convite que ocorreu no projecto da Casa da Música, os arquitectos Vinõly, Perrault e o próprio Koolhaas apresentaram propostas concretas dos seus projectos com o auxílio de consultores especializados nas mais diversas áreas munidos com estudos detalhados? Esses consultores entram realmente em acção numa fase mais avançada do projecto depois de escolhida a proposta vencedora e onde aí sim estas têm um papel importantíssimo na qualidade final da obra e em todo o seu processo de construção. Se permanecerem dúvidas convido-os a pesquisarem a proposta apenas de volumes que Óscar Niemeyer apresentou, e com a qual ganhou o concurso para a cidade de Brasília actual capital política do Brasil.

Cumprimentos
Luís Sousa

P.S. Não se pode pedir experiência profissional a um arquitecto sem lhe dar a oportunidade do exercício da sua profissão.