De: TAF - "O péssimo OE e a ilusão da Regionalização"
Caro António Alves
Fico contente por saber que as minhas crónicas são lidas. :-) Vou tentando naquele espaço expor algumas ideias de forma sucinta porque não devo abusar da paciência dos leitores. Nalguns casos essa escrita concisa poderá também não ser suficientemente esclarecedora, e por isso aqui tentarei completá-la.
A situação do país é a meu ver tão grave que, após se ter perdido a coesão social, está em risco também a coesão nacional. A crise da Justiça (por não ser aplicada e porque as leis e regulamentos são inaplicáveis de tão rebuscados), aliada ao enorme peso do Estado, induz nos portugueses, e em particular no Porto e no Norte, a tentação de propostas do tipo "mais vale tratarmos da nossa vida sozinhos": Regionalização ou mesmo Independência. Nenhuma destas opções é má em si, só que não são soluções. É que o mal está em nós cá em cima, que somos iguais a eles lá em baixo.
Especular sobre qual a motivação de Passos Coelho para agir como agiu é um exercício estéril. Prefiro analisar a acção em si, as suas condicionantes e os seus resultados. Eu, no lugar dele, teria feito o que ele fez. Porquê? Telegraficamente:
- este orçamento é péssimo e prejudicial para o país, com ou sem os retoques sugeridos pelo PSD;
- mesmo que o OE fosse bom, este Governo não inspira qualquer confiança sobre a sua capacidade de o cumprir;
- se fosse por minha decisão exclusivamente pessoal, tê-lo-ia chumbado sem hesitações.
Mas:
- é um facto que a maioria dos portugueses, e também a maioria dos militantes do PSD, foi convencida pelos especialistas e comentadores do costume de que haver um OE, mesmo mau, é uma necessidade absoluta e que os duodécimos são uma catástrofe de proporções bíblicas;
- o líder do partido não é o dono do partido e deve trabalhar com as pessoas reais, imperfeitas, incoerentes, que são os militantes e somos nós todos;
- a sociedade evolui mais devagar do que as elites e tentar impor-lhe uma mudança é contraproducente;
- assim, sendo a minha opinião pessoal quanto ao chumbo do OE minoritária no PSD, eu aceitaria a decisão colectiva, sem considerar que a discordância é tão "estrutural" que me levasse a abandonar a liderança.
Ou seja, acho que Passos Coelho decidiu bem, mesmo que a contragosto. É preferível usar ventos e marés a nosso favor em vez de tentar em vão lutar contra eles. E precisamente porque o país é lento a perceber o que lhe está a acontecer é que acho que nada de fundamental mudaria com a implantação da Regionalização. Pura e simplesmente não temos ainda, colectivamente, preparação para tirar proveito dela.