De: Pedro Bismarck - "À noite, todos os gatos são um pouco pardos"
Resposta ao post da Cristina Santos
Nada pode justificar, nada poderá ser legitimado assim. Não se pode ambicionar a um projecto de cidade (nova e recuperada) sem um projecto simultâneo de valores urbanos que transmita e assegure o respeito pela diversidade e especificidade dos espaços públicos e privados. Ainda para mais numa cidade como o Porto onde esse equilíbrio é tão frágil e ténue.
A cidade não é um recinto de festas, a cidade não vive apenas da movida, e esta não pode ser a muleta que legitime tudo. A cidade é, em primeiro lugar, para se viver; e só a partir daí virá tudo o resto: os cafés, os teatros, os jardins públicos, os ateliers, o comércio. Todo o projecto de cidade que não tenha como princípio fundamental criar as condições para essa qualidade urbana do viver, será um projecto falhado e sem possibilidade de futuro. É esse o problema do Porto.
A cidade não se constrói entre as 23h e as 04h da manhã, não é um parque de diversões nem é um queimódromo. Ela viverá sim da sua capacidade em atrair novos e outros habitantes, viverá daquilo que poderá oferecer como mais-valias para esse quotidiano. E será tanto melhor quanto conseguir conciliar movida com mais vida e mais habitantes.
Neste sentido, a ocupação selvagem do Jardim da Cordoaria e dos passeios públicos pelos automóveis, mas também o lixo acumulado, o barulho intenso, a ausência de policiamento e sobretudo o intenso «odor» a urina que se espalha pelas ruas de forma lastimável (não só à noite como ao sábado e ao domingo de manhã) assinalam a falta de cultura urbana e sobretudo a falta de respeito pela própria cidade. A Baixa do Porto é para esses, não uma cidade, mas mais um recinto de um qualquer festival provisório e temporário, onde se pode beber, urinar e sujar, porque afinal não moram aqui…
A implementação de regras que consigam gerir esse afluir de gente (sem o restringir necessariamente) e que simultaneamente mantenham e potenciem a qualidade de vida no centro, são essenciais para criar um equilíbrio absolutamente imprescindível entre os que habitam a cidade e os que a visitam.
Pedro Levi Bismarck
Ps1: Os «aquários» do Piolho não podem ter outro destino senão a desmontagem! São demonstrativos da falta de qualidade não apenas do arquitecto, mas dos técnicos e dos responsáveis da SRU que validaram o projecto. A aprovação e a construção das «pseudo-esplanadas» revela a falta de competência e qualidade técnica, a falta de rigor e a insensibilidade estética perante o património e perante a cidade, daqueles que neste momento gerem a recuperação urbana no Porto.
Ps2: A dualidade de critérios da Policia na fiscalização do trânsito parece-me um problema de ordem ética. Rebocam-se e multam-se os automóveis que não pagam por duas horas o parquímetro (muito bem). Mas não se multam os automóveis que à sexta e ao sábado à noite irrompem por passeios, largos, jardins, casas, retirando mobilidade e pondo em risco a segurança das pessoas. Não pode haver dois pesos e duas medidas.