De: Cristina Santos - "O regresso ao Porto e a rã-flecha"

Submetido por taf em Segunda, 2010-07-19 22:01

A SSRU vai a pé para os eventos, mas não imagina que os outros também queiram residir na Baixa, exactamente para poderem ir a pé para os eventos. Em prol da movida, ocupam o Jardim com carros, é óbvio que é reprovável. Mas a questão não é essa. Não estando o hábito cultural ainda enraizado, é preferível de forma temporária permitir esta situação, do que iniciar a perseguição cega, de quem não percebe que só há muitos carros, porque a maioria vive fora do centro e não pode ir a pé, como a SSRU faz.

A opção por Duque de Palmela em detrimento da Baixa não foi com certeza a movida que a condicionou, nem existia ainda. Em Duque de Palmela muitos edifícios já tinham garagem, há espaço na via pública, há vizinhança, pertença familiar solidificada, e os preços não se comparam à especulação da Baixa, até porque o estado do edificado é bem mais pacífico. Esta zona não precisa de promoção, nem ajuda, comparar o Centro Histórico? A Baixa nem com o Masterplan se resolve, é necessário estar sempre a pensar o marketing e o posicionamento, não é simples, preto no branco, de outra forma já não teríamos o problema que temos há quase meio século.

O factor sossego é uma condicionante, no segmento familiar que privilegia comodidades como: a garagem, o elevador, critério de vizinhança, segurança. As construções novas em Damião de Góis, Constituição, Arca de Água, Areosa, Francos, Antas estão praticamente ocupadas, e são centenas, é fácil ocupar quando agregamos toda esta oferta. Agora vai apostar no sossego, no Centro Histórico, na Baixa, quando lhe faltam todos os outros factores necessários a esse segmento? Como é que faz isso num curto espaço de tempo? Em vez de aprimorar a oferta, banaliza-a? Se a banaliza, arrasa a mais-valia do território.

As cidades distinguem-se pela sua cultura, diversidade, academismo, fazer casas para dormir até um Vila faz. Se já temos a diversidade populacional, se temos os eventos, se temos equipamentos, vamos apostar na cultura, no movimento, diurno e nocturno. Com comércio, com entretenimento, com licenças para abertura pela noite dentro. Há estragos no Jardim? Arranjam-se. Importante é que a movida continue, e mal se efective alargam-se os horários do metro, investe-se nos eventos para que justifiquem o custo do parque, etc. Acho que tomar atitudes de condicionar estacionamentos, esplanadas de vidro, é olhar para o dedo quando a lua brilha, é estar a pedir que se deitem 3 ou 4 paredes mestras abaixo, para se alargar os espaços pequeninos, onde todos estão de pé incomodados, e é depois, logo de seguida, estar a reclamar porque se faz fachadismo.

Sinceramente de forma, de facto muito pessoal, estou farta desta visão do Porto. É disso e da rã-flecha, gostava de ver outro animal venenoso no Sea-Life, a rã é muito pequenina e azul, mas rápido antes que feche ou o mandem demolir.

Cristina Santos