De: António Alves - "Civismo institucional"

Submetido por taf em Sábado, 2010-06-12 19:15

Caro Augusto Küttner Magalhães,

Devo lembrar-lhe que na envolvente de Serralves não existem apenas vivendas. Existem também vários bairros sociais (Pasteleira nova e velha, Pinheiro Torres, Lordelo, Mouteira, Rainha D. Leonor) cuja qualidade construtiva não permite aos respectivos moradores escapar ao incómodo ruído produzido durante a noite em causa. O número de pessoas que reside nesses bairros é substancialmente superior aos número dos residentes nas vivendas.

Eu resido nas Condominhas, a 760 metros (em linha recta) do coração dos jardins de Serralves e garanto-lhe que o ruído era verdadeiramente incómodo. E como muito bem referiu F. Rocha Antunes, estas situações são um verdadeiro desrespeito aos cidadãos mais fracos e desprotegidos nos quais se incluem os moradores dos bairros que atrás referi mas não só. Eu tenho uma filha com 17 meses que por causa da "música" teve uma noite horrível. Nem quero imaginar o que seria se morasse no P.T. dentro de um daqueles apartamentos cujas paredes são construídas com tijolo de 7.

Ainda bem que falou na Áustria e em Viena porque é um excelente exemplo. Não tenho costela austríaca mas tenho uma pequena parte da minha família que é austríaca, fruto de um casamento entre uma tia minha e um austríaco há quase 50 anos, e que vive na bela cidade do Danúbio. Visito Viena com alguma frequência. Esta cidade, também ela, já teve melhores dias mas, no entanto, é ainda um exemplo de qualidade de vida urbana e respeito pelos cidadãos. É um dos grandes centros culturais e musicais da Europa e do Mundo, onde se realizam anualmente centenas, senão milhares, de eventos musicais e culturais, muitos deles em parques públicos mas sempre dentro de horas convenientes e respeitadores do direito ao descanso dos seus cidadãos. Nesta cidade, um pacato cidadão que, por esquecimento, se atreve a depositar garrafas de vidro no vidrão depois das 21 horas arrisca-se a confrontar-se com um polícia que lhe aplicará a respectiva multa por estar a provocar ruído a horas proibidas. Não será necessário chegar a tanto. Mas pelo menos algum civismo institucional, até para dar exemplo ao cidadão, é urgente.