De: António Alves - "Oportunidade"
O que pode parecer uma ameaça pode ser transformado numa oportunidade. Este abandonar definitivo dos projectos de linhas de “tgv” que têm o Porto como origem/destino deve ser transformado numa oportunidade para pôr em causa todo este processo e abandonar definitivamente o que foi projectado até aqui. Incluindo, obviamente, a Ligação Lisboa-Badajoz sob pena de a Norte se ter de enveredar pela desobediência civil para não termos de pagar uma ligação ferroviária absurda que não serve mais de metade de Portugal. Esta ameaça deve ser claramente feita pelas forças vivas desta Região. Não estamos em condições de pagar, com o nosso dinheiro, o nosso sacrifício, e a insustentabilidade do nível de vida das nossas gerações futuras, uma ligação ferroviária que nos exclui.
O processo deve retornar à estaca zero. Um verdadeiro Plano Estratégico Ferroviário deve ser pensado e formulado de acordo com os seguintes objectivos essenciais:
- 1- Mudança de bitola das nossas vias férreas, da ibérica para a europeia, de modo a que no futuro (já não muito longínquo) não corramos o risco de ficar ferroviariamente isolados do mundo.
- 2- Revitalizar a nossa rede clássica desenvolvendo principalmente as ligações inter-regionais com particular incidência nas regiões mais densamente povoadas, e.g., o Entre-Douro-e-Minho e Região Centro, para desincentivar o uso exagerado do automóvel em distâncias até 150 km.
- 3- Reformular a rede, dando-lhe uma configuração em malha, para que todas as capitais de distrito se encontrem ligadas entre si, na menor distância temporal possível, principalmente as que se inserem na mesma região.
- 4- Todas as actuais linhas e as novas a construir devem ser projectadas para tráfego misto de mercadorias e passageiros.
- 5- Transformar a rede ferroviária numa importante alavanca para a competitividade da indústria turística. Quem chega ao aeroporto do Porto deve fácil e rapidamente poder chegar, usando o comboio, ao Douro, a Braga, a Guimarães, a Barcelos, a Viana do Castelo, e, inclusivamente, a Santiago de Compostela. Para isso o Aeroporto Francisco Sá Carneiro deve ser ligado à rede ferroviária clássica anulando o “missing link” de apenas 2,5 km que obsta a que isso seja já hoje uma realidade. A reformulação do traçado, e do sistema de exploração da linha litoral algarvia, para parâmetros modernos e eficientes, deve ser levado a cabo. A Linha do Douro e os seus ramais, até Salamanca, deve ser considerada como de fundamental importância estratégica para o desenvolvimento da emergente indústria turística desta região que tem crescido continua e sustentadamente nos últimos anos.
- 6- As ligações internacionais, desde já em bitola europeia, devem ter como objectivo prioritário facilitar o tráfego de mercadorias e ligar as regiões portuguesas mais exportadoras ao nó logístico de Salamanca - Medina Del Campo - Valladolid.
- 7- Estruturar ferroviariamente a mega região que vai da Corunha a Setúbal com uma linha de altas prestações, sendo a sua velocidade adequada aos objectivos e condicionalismos pontuais. Uma velocidade média de percurso na casa dos 200 km/h parece-nos ideal.
- 8- Modernizar as outras ligações a Espanha actualmente existentes, elevando-as para patamares modernos e consentâneos com as exigências dos nossos dias.
Em resumo, deve-se projectar uma rede ferroviária moderna, de altas prestações, com velocidades adequadas caso a caso, que seja uma alavanca para a competitividade da economia nacional e para a coesão territorial. Deve-se deixar definitivamente de falar em “tgv’s” e ligações megalómanas e caríssimas, que servem apenas a vaidade insana duma capital que se julga ainda com um império mas não tem onde cair morta, e os interesses estratégicos do estado espanhol que, legitimamente, os promove, mas que não são definitivamente os nossos. Estas megalomanias, sem mercado que as sustentem, porão em causa o futuro daqueles portugueses que hoje ainda não têm capacidade de decisão e que serão onerados para toda a vida com uma dívida gigantesca que a estupidez dos seus pais e avós gerou.