De: Cristina Santos - "Campanhã é de facto o novo desafio"
O projecto da VCI, ou mesmo os limites da actuação da Porto Vivo na freguesia de Campanha não chegam, como bem diz o David, fazer as pazes com esta zona significa muito mais do que edifícios, exige um projecto estruturado socialmente, um verdadeiro desafio. Campanhã é uma freguesia bonita, em cada quintal há uma laranjeira, e há quase um quintal por casa. Casas estas que na maioria não necessitam da intervenção profunda que é necessária no Centro Histórico e são acessíveis. Campanhã também amanhece numa nuvem de nevoeiro, onde quase só o Dragão nos orienta, e o silêncio da falta de pessoas, veículos e actividade proporcionam uma paz quase inacreditável numa cidade como a nossa. Faz lembrar em muitos aspectos o Centro Histórico de há 10 anos atrás, tem droga, tem marginalidade, vandalismo e uma cultura urbana à parte. Não desperta uma paixão fácil, mas tem uma expansão que o Porto necessita, tem espaços quase rurais e uma zona verde natural, sem intervenção humana e silenciosa.
Já vos dei por exemplo os 11 assaltos que sofremos no Mausoléu em 9 meses de obra. Inacreditável, não nos restou uma única janela ou porta até ao 1º andar. Estes amigos do alheio eram inteligentes, conseguiam inclusive entrar pelo telhado, desviar energia, sempre um passo à frente das nossas medidas de segurança. Foi difícil. Mas por incrível que pareça, e se as autoridades culpavam a obra pelo aumento de marginais na zona onde ela se situava, certo é que mais 2 obras estão em curso, com novas famílias. E os moradores privados, poucos que por lá existiam, agora vão ter mais companhia, vão estar mais seguros. Entretanto, alguns estabelecimentos de comportamento duvidoso foram encerrados pelas autoridades, o lixo na via pública diminuiu drasticamente. Os carros abandonados foram rebocados. Agora faltam alguns barracos que competirá à Câmara demolir. Mas até a utilização dos contentores tem melhorado, já se nota a preocupação de fechar as tampas, coisas simples, melhorias, que a presença de novas pessoas faz ocorrer. Quase como uma nova esperança para algo que já se dava por perdido.
Não quero deitar foguetes, e também não tenho máquina para vos comprovar a mudança só do panorama da rua a que me refiro, foi levada numa dessas investidas. Mas asseguro-vos que o início no Centro Histórico foi mais ou menos assim até se habituarem, e hoje acho que o Centro Histórico já anda sozinho e dificilmente voltará para trás. Há ainda muito trabalho, mas a auto-estima, a integração, as pazes com a cidade já as fez. Agora é Campanhã o novo desafio. É Campanhã que precisa, o Centro Histórico já se vende e negoceia sozinho.
Cristina Afonso