De: Cristina Santos - "O Mausoléu"

Submetido por taf em Terça, 2009-03-17 17:03

Casa em Campanhã


A propósito da nova emissão do Porto em Conversa com António Alves, em que ficámos todos mais esclarecidos acerca das “bitolas” e dos caminhos de ferro, lembrei-me do Vítor Silva e da nossa conversa nos estúdios da Bit rádio, em que o Vítor quase ria em directo do meu suposto optimismo em relação às negociações possíveis para aquisição de prédios antigos. Mas não é optimismo, é lógica: se a oferta aumenta o preço diminui, ou não? De facto não, mas vale a pena tentar.

Vejamos o caso Mausoléu. Esteve no mercado por 142 mil, o interessado na sua aquisição ofereceu 80 mil, não obteve resposta, no mínimo 130 mil e logo se veria. Passados uns meses, quase um ano, o imóvel baixa para 122 mil. O interessado oferece 80 mil. O último anúncio 112 mil, o interessado oferece 82 mil. Imobiliária não aceita, interessado informa que tem melhor proposta mas só a faz directamente ao proprietário.

Antes da reunião, os interessados vagueiam pela zona que é horrível, tem bairros nas imediações, quase desistem do negócio, oferecer 80 mil é muito, cave, rés-do-chão e 1º andar, área coberta 100m2, quintal 109m2, se colocarem a cabeça fora das janelas ainda visualizam o rio, vê-se um pouco do Dragão e a ponte, mas a zona é de fugir. Já na reunião o proprietário concorda, a zona é de fugir, mas 80 mil é pouco, 110 mil é o mínimo. Fecham por 87.500, preço justo, à 3ª reunião.

Segue a negociação com os bancos, spreads altíssimos, que alteram uns miseráveis 15/20 euros na prestação, que representam entre 30 mil a 40 mil no fim do empréstimo. 6 meses a estudar bancos, decisão pela Caja Duero, promoção spread 0% primeiro ano, 0,25% restantes. Consumadas as negociações, proprietário pagou Certificado energético de casa para recuperação, comissão à imobiliária e certamente pagará os impostos. Os adquirentes 87.500 mais 3.810 em selos, notários, escrituras, processos, dossiers.

E agora a parte boa: orçamento de obras, objectivo restaurar e tentar fazer da moradia uma humilde homenagem a Allan Poe, 70 mil, temos portanto 160 mil aproximadamente por cave + rés-do-chão + 1º mais quintal de 109 m2, tudo restaurado num estilo poético, onde nem sequer faltam as pombas, do pombal feito de lata e outros acessórios montado no baldio, corvos não, mas tem um St.º António na fachada.

Daremos seguimento à história do Mausoléu, falta fazer contas ao tempo das obras, ao uso e só depois disso se poderá provar que pelo preço de um vulgar apartamento se pode ter uma casa no Porto, característica, única, reconstruída conforme se vai construindo e alicerçando a vida e se possível com uma hortinha biológica para as épocas difíceis de crise que ainda vamos passar. E claro um labrador numa casota ao fim do quintal.

A questão é ir contactando, não desistir na primeira abordagem, afinal quantos anos seguidos passamos em frente ao prédio que um dia queríamos comprar? No Porto é fácil, há prédios poéticos à venda em todo o lado.