De: Maria Augusta Dionísio - "Aqueles de nós que TAMBÉM trabalham..."
Caro Frederico Torre
Li o seu post com toda a atenção, e como referiu o meu bairro, tomei a liberdade de me dirigir directamente a si. Para começar, informo-o que também trabalho e também pago impostos e que não vejo mal nenhum que aqueles que geram riqueza e ganham poder de compra, de forma honesta, possam aplicar o seu dinheiro como bem entendem, dentro, é claro, dos limites que a ética demanda. Concorda comigo que eticamente é reprovável aplicar essa riqueza no tráfico de pessoas, de droga ou de terrenos.
Ora, sendo assim, não achei de bom tom a sua referência ao local onde vivo há mais de trinta anos, ajudado pelo ESTADO, como manda a CONSTITUIÇÃO de 1976, aquela que nasceu após a Revolução de Abril. A menos que queiram propor um novo modelo de ESTADO, aquele que ainda vigora no nosso país estabelece igualdade de todos perante a LEI. A riqueza não é, portanto, factor de distinção dos cidadãos perante a LEI (pelo menos no papel, pois bem sabemos que o dinheiro compra bons advogados e a propalada igualdade perante a LEI cai por terra).
Por isso lhe digo: a "classe média/alta" a que se refere e da qual diz fazer parte tem todo o direito em viver onde quer. Mas o problema não é esse, é outro. Trata-se de saber que raio de cidade queremos nós. Uma cidade que reserva os bons espaços para os ricos e atira os pobres para a periferia? Infelizmente, deixe que lhe diga, sempre assim foi. O Aleixo onde vivo, por acaso, fugiu a essa lógica que construiu bairros sociais em zonas que hoje são consideradas nobres. O terreno do meu bairro foi já na altura em que foi comprado caro para os valores da época.
Para terminar, acredite que respeito a sua opinião sobre o modelo de sociedade que defende. Mas a virtude do modelo de sociedade em que vivemos é tão só a possibilidade de discordar de si, dizê-lo sem medos, e lutar, pelo voto, para que ideias tão conservadoras não sejam maioritárias.
Maria Augusta Dionísio