De: Nuno Coelho - "Tags e graffitis"
Definitivamente, não compreendo onde vive este senhor Nuno Carvalho... Mas desde quando é que as receitas dos bilhetes pagam os custos de operação e manutenção do metro ou dos comboios ou dos autocarros? Por pagar uma muito pequenina fracção dos custos já entende que tem direito a impedir a Metro do Porto de arranjar meios alternativos de arrecadar receitas? Talvez quando os grafiteiros pagarem o mesmo que pagam as empresas que publicitam nas carruagem e estações de metro... E é por causa do Estado que tem metro para começar, nem falo dos preços que artificialmente são mantidos baixos através da contribuição dos impostos que todos pagamos.
A repressão é necessária e útil, enquadrada pela lei e controlada pelas instituições democráticas. Alguém que tivesse conhecido NY nos anos 80 e agora, só pode agradecer à eficácia da Polícia e das políticas de tolerância zero na transformação fenomenal da cidade. Ando de metro às 4 da manhã em NY como não ando às 11 da noite em algumas partes da nossa Baixa. É triste mas é verdade. É preciso investir nos meios e educação e tratar toda a cidade como se fosse um activo valioso da nossa experiência como habitantes e anfitriões. E não tolerar abusos.
Conheço por experiência própria a realidade dos bairros sociais na nossa cidade, e não acredito na conversa dos coitadinhos vitimas da sociedade. É preciso a cidade ir de encontro aos habitantes dos bairros, é verdade, mas ainda mais necessário são os habitantes irem de encontro ao resto da cidade. A auto-marginalização existe e existe também uma excessiva desresponsabilização do indivíduo. Há algumas pessoas que nunca são culpadas de nada e consequentemente não se sentem culpadas por nada. É como se neste caso o Estado existisse apenas para passar a mão e o cheque nas costas dos prevaricadores mas nunca pudesse dizer ou apontar o que está mal. É efectivamente uma situação que agrada a muita gente, pudera... E os muitos milhares de pessoas que existem nesses bairros que trabalham e bem, respeitam a lei e não têm um décimo do capital de desculpabilização e ajuda que outros têm? Isso é que é uma grande injustiça!
A sua afirmação de que uma tag valoriza um espaço dava pano para mangas, a começar pela presunção de que o seu sentido estético é mais refinado que o meu e o de muitos outros cidadão, mas enfim... E não é um paper de fim de conferência / fim de curso que apenas se congratula com o gozo que causa exprimir-se através de graffitis e claramente parcial, já que entrevistaram apenas grafiteiros e publicaram a opinião de miúdos do secundário (e a reportarem a experiência que é usar o Word ou Powerpoint? mas que tem isto a ver com a moralidade de se usar o espaço público para prazeres privados?) depois de pintarem uma parede, que vai colocar em causa conclusões de estudos objectivos, sujeitos a peer review, publicados em revistas de audiência mundial e que reportam a influência desta actividade no meio envolvente através de variáveis mensuráveis.
Não há um assunto mais importante para a nossa cidade do qual possa falar? Talvez concordemos nalguma outra coisa, talvez...
Nuno Coelho
OCIENE