De: Nuno Carvalho - "Respostas"

Submetido por taf em Segunda, 2009-10-26 14:41

Caro Nuno Quental,

certamente nunca terá ido a Londres, Paris ou Berlim, porque senão não afirmaria com tanta certeza que "..atitudes destas, que infelizmente são normais em sociedades com um baixo nível de instrução,..."

Falsamente conciliador? O Nuno tem uma forma de estar perante este fenómeno que é completamente repressiva, como aliás repete neste mail com tanta "firmeza", negando alternativas de resolução. Se eu procuro soluções alternativas o Nuno chama-lhes de falsas, ambíguas e de falinhas mansas? Mas que tipo de argumentação é esta? O que vejo, da sua parte, é uma enorme incapacidade de ver para além daquilo em que acredita, daí entender a confusão que faz entre anarquia e caos. Já é recorrente este erro, que para mim é intencional para se denegrir uma ideologia, mas esperava outra forma de estar na discussão, num espaço como este.

E sim, faço efectivamente a apologia da anarquia porque, ao contrário do que o Nuno defende, a democracia em que vivemos não é reformável, porque nem sequer é consequente com o significado da própria palavra.

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Caro Pedro Menezes Simões,

tanta pergunta demonstra um pouco de desatenção da sua parte ao ler os mails que tenho enviado. Mas não será por isso que deixarei de tentar responder-lhe a todas as perguntas que coloca. Por partes:

1- Para mim, vandalismo é precisamente a definição que teve e gentileza de retirar do dicionário. A questão é que, na maioria dos casos, considero que o tag valoriza o espaço em que se encontra. Certamente que esta é uma questão estética que não será discutida aqui. Por isso mesmo, e se tivesse lido com atenção os meus mails anteriores, teria reparado que há uma reflexão que faço partindo do principio de que o tag é vandalismo. E nesse caso considero que, "Dependendo do contexto e do espaço, sou pelo vandalismo em algumas situações."

2- Neste ponto, o Pedro está a entrar pela demagogia. É óbvio que quando falo de "manifestar e expressar" refiro-me a ideias e não a conceitos comerciais e mercantis. Mas é interessante que coloque esta questão em cima da mesa. Para si, parece que basta que se pague para se usar o espaço público para publicitar o que quer que seja. Para mim, a publicidade não deveria ser permitida em espaço público. E mantenho a ideia de preferir ver uma composição de metro pintada a graffiti do que pintada com publicidade, como acontece com o metro do Porto. Mas com que legitimidade esta empresa faz publicidade nas suas carruagens quando eu pago para poder usar este serviço?

3- Discordo da colocação de tags em monumentos, da mesma forma que me parece desajustado pintar um quadro por cima de uma outra obra plástica, da autoria de outro artista. Da mesma forma que não gosto que alguns "writters" coloquem o seu tag por cima de trabalhos de outros. Ora, um banco, geralmente, não se encontra instalado em nenhum monumento. Reservarei para mim, se mo permite, os motivos pelos quais posso, eventualmente, defender o uso das fachadas dos bancos como espaço por excelência para determinados tags, graffitis e outros fenómenos de expressão.

4 e 5- Não me pergunte a mim quais os fenómenos que levam alguém a fazer tags seja onde for. Leia com alguma atenção o estudo que enviei num dos mails anteriores e certamente que descobrirá algumas explicações. A repressão só traz mais problemas e é a forma mais medieval de resolver os conflitos sociais latentes. A única forma de impedir a proliferação do fenómeno tag pela cidade é fomentar o diálogo entre a cidade e os que se consideram marginalizados dessa mesma cidade. E acredite que essa marginalização não é auto-imposta. Desconhecerá, porventura, que a maior parte dos jovens dos bairros sociais só conhecem a cidade que rodeia o seu próprio bairro. O resto da cidade só se lembra deles quando é preciso arranjar votos ou quando é necessário reprimir alguma situação menos "tolerável" socialmente, como o tráfico de droga.

Mas a "cidade" nunca vai, ou raramente vai, a esses bairros para partilhar vivências e encontrar formas de perceber e entender o "outro". Dou como exemplo o recente filme rodado no bairro da Cova da Moura, que fez mais pelo bairro e pela integração dessas pessoas na cidade do que anos e anos de repressão. Certamente que não discordará disto. Só se andar mesmo a dormir! Gostava de saber onde foi tirar a ideia de que sou indiferente ao sentimento de insegurança e intimidação que algumas pessoas sofrem no seu dia-a-dia...

Saudações,
Nuno Carvalho

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Nota de TAF: Caro Nuno, é interessante que defenda a anarquia quando vive numa sociedade organizada (com defeitos mas organizada), e usufrui dela. Um exemplo simples: pelos vistos considera útil a sua participação aqui n'A Baixa do Porto (eu, pelo menos, considero-a). Repare, contudo, que este espaço viola completamente o que são as convicções anárquicas que diz possuir - há aqui uma "autoridade absoluta", que sou eu! No entanto, como há-de concordar, isso em nada limita a sua liberdade (pode aqui escrever à vontade a sua opinião e, se não pudesse, teria a possibilidade de a publicar noutro blog qualquer). Além disso, é precisamente essa autoridade, essa existência de regras e de alguém que as faz cumprir, que torna este espaço útil para todos. Quando deixar de ser útil, desaparecerá naturalmente.