De: Rui Encarnação - "Tags e Bugs"
Caro Tiago, a discussão à volta dos TAGs é fantástica e elucidativa.
Que a intervenção mural pode ser uma forma artística de expressão e, perdoe-me o pleonasmo, de intervenção social, é facto que só não tem por certo quem nem sequer ligar a televisão, não ouvir rádio, ler jornais, ou acordar diariamente. Que parte, por vezes grande parte, do que se faz por aí não passa de puro vandalismo, sem objectivos nem consequências, parece também ser inquestionável. Agora, eleger a repressão como forma de combater esse atentado, é que me parece, sinceramente, brutalmente desajustado.
Em primeiro lugar, há coisas bem mais importantes no Porto a combater do que os Tags e os Taguistas e formas bem mais sofisticadas de ser vândalo (compreendido como usar o que não é nosso e estragá-lo) com as quais ninguém se importa ou contra elas se insurge. Depois, tratar como criminoso, e especialmente à moda americana, os taguistas revela bem o sentido meramente punitivo e vingativo que muitos dos nossos habitantes têm da Lei e, por isso, a visão democrática que têm da sociedade e a irrealidade dessa visão.
Não resolver as causas, ou intervir para as tentar solucionar, de grande parte dessas intervenções sem nexo, é tornar irrelevante e ineficaz qualquer intervenção policial (basta ver o S. João de Deus e a erradicação do problema de droga que decorreu das demolições). Depois, a intervenção policial não é só eficaz quando é repressiva. A preventiva e de proximidade é muito mais certeira, especialmente nos resultados. Falta ainda a questão da intervenção artística e até social. Fica tudo no saco da criminalidade?
Haja Bom Senso!
PS: Meu Caro: a questão da gravação e da participação é, mesmo, política (aqui entendida como aquela que é inerente aos partidos políticos). Nenhum partido, dos instalados, é claro, quer sujeitar-se a ter povo e interventores cívicos a assistir a discussões na assembleia e, muito menos, a poder ser confrontado com as declarações e atitudes que vão sendo tomadas em nome desse Bem maior que é o partido. Por isso, ou muito me engano, ou vai-lhe restar a indignação por não se fazer a coisa mais óbvia e mais produtiva dos últimos anos em termos de participação cívica e verdadeira discussão política da e para a cidade. É pena, mas é a cidade e o país que temos...
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Nota de TAF: quanto aos tags e graffitis, esta minha proposta resolveria grande parte do problema.