De: José Silva - "O romantismo a caminho de Sanábria não salvará o Tua"
A minha tese é que a desnaturalização da paisagem via construção de barragens e desertificação humana do interior Norte é uma conspiração lisboeta para lá construir uma central nuclear. Independentemente da minha opinião, perante a constatação dos factos, ilustres bloggers e movimentos de cidadãos insistem na linha do Tua até Sanábria como solução contra a barragem de foz Tua. Ver artigos de:
Pura fantasia. Há que contextualizar a questão do Tua e reconhecer as variáveis e o poder do «adversário» em jogo:
- - Há outras barragens (Fridão e Sabor) em projecto e que estão a ser combatidas (aqui e aqui) sem a argumentação da linha férrea;
- - Há o desespero da influente EDP com uma dívida de 14 000 milhões que tem de rentabilizar ao máximo o aproveitamento hidroeléctrico para não falir;
- - Há a questão das reservas estratégicas de água em Portugal no século XXI, como se pode depreender neste artigo;
- - Há ainda a questão da ausência de representação política e de poder regional, que não poderá nunca ser substituído pelo voluntarismo da sociedade civil;
A estratégia de combate à barragem tem que ser diferente, mais realista e não pode contra-argumentar com a linha férra até Sanábria. As ferrovias em Portugal e no interior Norte foram construídas numa altura que não havia concorrência de outros modos de transporte e havia maior procura porque havia mais população residente. Eram portanto economicamente viáveis. Hoje há concorrência do avião, rodovia e fluvial. Há menos população do que há 100 anos atrás. Na minha opinião, hoje o investimento em ferrovias no interior Norte deve ser circunscrito a turismo e logística. Para além disso haverá com certeza outros projectos em Trás-os-Montes e Alto-Douro mais úteis. Comparemos, por exemplo, o cenário de reabilitação da linha do Tua até Bragança mais o novo troço até Sanábria face à reabilitação da Linha do Douro. A utilização, lobby ibérico, potencial turístico/logístico e investimentos já previstos da/para da Linha do Douro são muito superiores aos da linha do Tua. Além do mais, pessoas e mercadorias partindo da foz do Tua e chegando a Sanábria, onde se dirigiriam? Só pode ser à Galiza, Salamanca/Madrid ou Medina del Campo / Nordeste de Espanha. Ora quem está na foz do Tua, se quer algum desses destinos, vai directamente para lá sem precisar de passar por Bragança: pela Linha do Douro rumo ao Porto e depois à Galiza ou pela Linha do Douro reabilitada até Salamanca e daí para Norte ou Madrid. É preciso realismo mesmo nas organizações informais para se ter credibilidade. A argumentação anti-barragem da foz do Tua tem que ser baseada em critérios mais fortes e menos utópicos. Caso contrário, nem mesmo vitórias morais se alcançarão. E o realismo que peço é apresentar soluções alternativas às barragens em causa:
- - Mini-hidrícas;
- - Barragem no Águeda ou Alto Coa.
Ou mesmo eventualmente aceitar a barragem negociando fortes contrapartidas para a região:
- - Reabilitação/upgrade de outras linhas, nomeadamente do Sabor e Douro;
- - Regionalização piloto no Interior Norte;
- - Garantia de não ser instalada central nuclear no Douro;
- - Mais receitas dos proprietários das barragens para a região;
- - Ryanair em Bragança;
- - IRC a 15%, como promete o PSD;
- - Etc.
Decisão a tomar por quem está depois do Marão e a debater em futuros posts.
PS: Este post foi escrito ontem de manhã. Durante a tarde tive conhecimento das declarações do candidato do PS pelo distrito de Bragança que afirma que Foz Tua - Sanábria não é rentável e que portanto se deve construir rodovia. Concordo com o diagnóstico mas discordo, obviamente, da conclusão.
José Silva - Norteamos