De: Cristina Santos - "Precauções do século XIX"
Este excelente texto da Arq.ª Paula Morais merece uma humilde ilustração, no Séc. XIX só havia plágios de projectos caso estes fossem plantados na mesma Rua e em solos idênticos, tudo era feito ao pormenor, por isso é que cada casa da Cidade é única.
No caso das fotos em anexo, é um prédio situado a escassos metros do encontro de várias águas de nascente, como não podia existir ventilação directa para as traseiras, pelo encosto directo ao terreno vizinho, na construção foram feitos dois pequenos túneis de ventilação que desembocavam com chaminés no terreno vizinho situado a uma cota mais alta.
Acontece que, passado um século, o terreno vizinho foi vendido e o construtor do Séc. XX resolveu entupir as ventilações deste prédios com entulho da obra que realizou.
Os pavimentos do piso térreo apodreceram, as paredes ficaram fulminadas, coincidência ou não quando a obra de recuperação começou já o inquilino do rés-do-chão estava em tratamento com um cancro no pulmão, morreu 2 meses após a conclusão. Não sei se existiam gases, mas por precaução abriu-se o alçapão e os respiros da fachada frontal que haviam sido tapados por serem considerados as causas da humidade e apodrecimento, e só passadas 4 semanas é que se desceu para essa espécie de cave.
No fim só foi possível desobstruir uma das chaminés e construir uma desembocadura a 80cm do solo, mesmo assim e por precaução colocaram-se alguns tubos de ventilação para as laterais e drenagens interiores.
O pé de alto começa em 2 metros e termina em 1 na parede frontal. Se o dono da obra não fosse um octogenário o mais natural era que exigisse o aproveitamento deste compartimento, como aliás começa a ser rotina em alguns restauros que vejo pela Cidade.