De: António Cardoso da Conceição - "O que era e o que é"
Vi as fotos enviadas por Serafim Pereira no post "O que era e o que é" e não resisti a comentá-las.
Salvo o devido respeito, elas não mostram o que era a Avenida dos Aliados no passado e o que é agora. Elas mostram apenas a captação de duas imagens daquele espaço. Uma, a antiga, uma imagem bem captada, direita, clara, equilibrada, bem definida. A outra, a moderna, uma imagem baça, cortada, centrada no prédio inclinado da esquerda (que, pelo contraste da sua clareza com o tom escuro dos prédios adjacentes, que não se verifica na imagem antiga, é o que chama mais a atenção), o qual, por força mesmo dessa inclinação e da ausência de enquadramento, cria uma impressão geral desagradável.
A comparação é, por isso mesmo, falaciosa. É como se comparássemos uma fotografia de uma actriz famosa pela sua beleza e sensualidade (sei lá, por exemplo, Angelina Jolie), tirada à saída da cama por um amador, depois de uma noite de insónia e má disposição, com outra foto da mesma actriz, devidamente maquilhada e produzida, captada em estúdio por um profissional.
Sejamos realistas: os canteiros simétricos e geometricamente implantados da antiga Avenida dos Aliados não eram o jardim paradisíaco que a foto antiga sugere. Eram pedaços de terra com bocados de gramão onde os possuidores de cães faziam os seus animais largar os respectivos dejectos e que não valia a pena tratar, porque o povo dava cabo deles nas noites de S. João ou de festejos de uma qualquer frequente vitória do Futebol Clube do Porto. Além disso, impediam a utilização da Avenida para o que quer que fosse. Se a memória não me atraiçoa, a Feira do Livro, por exemplo, não se podia realizar na Avenida. Quando se fazia ali, decorria no espaço restrito da Praça Humberto Delgado.
A nova Avenida de cimento talvez não proporcione fotografias aéreas tão belas. Mas fez do espaço da Avenida um espaço comunitário, onde podem nascer esplanadas repletas de animação, onde se podem realizar actividades de artísticas e culturais, onde a cidade pode mostrar que está viva. Se isso não acontece, a culpa é dos portuenses. Não da renovação da Avenida.
Atentamente
António Cardoso da Conceição
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Nota de TAF: a propósito de esplanadas na avenida, lembro a proposta do Arq.º Pulido Valente com uma solução de circulação de peões e veículos adequada a esse fim.