De: José Ferraz Alves - "Vigo ou Porto?"
Reporto-me à notícia do Público Local Porto de hoje de um acordo entre o novo presidente do governo Galego - Alberto Nuñes Feijóo - e a CCDR-N para a criação de estruturas conjuntas com vista à programação de apoios comunitários para o período 2014-2020. Com a devida vénia a Miguel Torga, retomo o meu soundbite - já estou a aprender alguma coisa com os políticos -: "O Porto é segunda cidade do País, mas a primeira cidade europeia da Península Ibérica".
Tem-se assistido a um legítimo protagonismo por parte do Sr. Alcaide de Vigo para a criação de serviços euro-regionais na sua cidade, sem qualquer intervenção do Porto em competir pelo mesmo. Em Santiago de Compostela foi aberta, nas antigas instalações de uma Instituição Financeira, uma representação da Junta Metropolitana do Porto. Porque não se desafiou o Governo Regional da Galiza a abrir idêntico departamento na Baixa do Porto?
De acordo com o Público de hoje, a CCDR-N apresentou uma proposta de acordo no âmbito do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza - Norte de Portugal, com sede em Vigo. Isto é criar emprego qualificado em Vigo. Porque não no Porto? Este é um dos tais pequenos assuntos que me é mais caro. Porque entendo que a vida se faz de acções e de pequenos actos concretos. De ideais, mas sobretudo de causas. Será que depois de termos andado duas décadas a fazê-lo com Lisboa, sendo o nosso problema a falta de empregos qualificados na cidade, estamos agora a deslocá-los para Vigo e para Santiago de Compostela?
É dramático que se esteja a deixar fugir para Vigo a capital da Euro-região Norte de Portugal-Galiza, sob o pretexto de que não há decisor regional. Mas quem está a aparecer não é o Presidente do Governo Regional da Galiza mas o Senhor Alcaide de Vigo. O Porto e a Junta Metropolitana do Porto também têm de assumir esse papel. Neste momento, muito bem, por exemplo, pertence a Gaia a Presidência do Eixo Atlântico, mas isso não é a capital da Euro-Região com os impactos decorrentes.
Este é um debate que deveria ser feito. De facto, somos bons viajantes, verdadeiros empreendedores de descobrimentos - aliás, o projecto de criação de um museu dos descobrimentos numa lógica de empreendedorismo fora do contexto do Estado parece-me muito interessante e reveladora do espírito da cidade, e deveríamos apoiar os seus promotores -. Gostamos da nossa cidade, mas não nos importamos de pretextos para sair em trabalho, se calhar para depois regressar com maior prazer. Mas estes casos parecem-me graves contrasensos quando se pretendem fixar as pessoas na cidade. Um director, um director-adjunto, técnicos de apoio, secretariado, administrativos, isto são empregos directos que deveríamos ter no Porto.
Que têm os responsáveis do Porto de hoje e do próximo Porto a dizer sobre isto?