De: Nuno Quental - "Igualdade e dependências"
O tipo de raciocínio que expus relacionando qualidade de vida com equidade deriva dos estudos do prémio Nobel Amartya Sen, cuja obra prima Desenvolvimento como Liberdade recomendo vivamente. Aí se encontram razões mais que abundantes por ex. sobre o erro grosseiro que é cometido ao tomar por garantido que PIB = desenvolvimento. Sen apresenta o desenvolvimento de uma forma múltipla composta por diversos tipos de liberdades.
Sem querer bater no ceguinho, aumentar-se a equidade é sem dúvida aumentar as oportunidades de uma grande parte das pessoas e logo o nível de desenvolvimento de um país (quem diz país diz região, cidade, etc.).
O raciocínio que o Francisco Rocha Antunes nos apresentou sobre o IRS já está ele próprio enviesado. Considera que como uns pagam muito e outros pagam pouco está tudo bem porque há redistribuição de riqueza. Mas está a passar ao lado do fundamental! Não é esse tipo de redistribuição que precisamos, acho eu. Mais importante que isso seria uma economia inerentemente equitativa, ou seja, geradora de equidade, e não uma economia que no fundo gera desigualdades e que depois, como se tivesse peso naconsciência, anda a distribuir trocados a quem precisa.
Aliás é isso que mais me irrita nos partidos da esquerda. É que ao tratarem as pessoas como coitadinhas e merecedoras de todos os apoios e mais alguns, ignoram o essencial e agravam as causas dos problemas, criando dependências cada vez mais difíceis de ultrapassar. Se dermos condições para as pessoas serem preguiçosas sabem bem que assim o farão!
Portanto no fundo acho que estamos a caminhar no sentido errado, mesmo em tempo de crise. Há uma fatia cada vez maior da população que se está a habituar à ajuda sempre presente do Estado. E isso paga-se caro.
Em suma: eu gostaria de viver num país onde ninguém tivesse de estar isento de pagar IRS porque auferiria rendimentos para isso e para viver com qualidade. Infelizmente não há nenhum partido cá que pense desta forma. O PS atira dinheiro para os problemas e ganhou uma absurda mania das grandezas; o PSD e o PP não acreditam na equidade, só acreditam no salve-se quem puder, embora em extensões diversas; o BE faz a apologia do ser humano como coitadinho; e para a CDU o ser humano passa a ser uma entidade abstracta. Há alguns partidos novos aí, como o MEP, mas que em certos aspectos tem um discurso lamentável, e pelo que li no excelente site euprofiler acaba por entrar também naquela lógica da subsídio-dependência que é a raiz de muitos dos nossos males...
Abraços
Nuno