De: Nuno Quental - "O metro e a história da carochinha"

Submetido por taf em Terça, 2009-05-19 23:50

Viva

O Arq.º Pulido Valente chamou-me de fundamentalista por me opor a um novo atravessamento do Parque da Cidade. Eu estimo muito o Arq.º Pulido Valente, mas já viram ao ponto a que chegámos? Também o Diogo Lencastre, colega de luta no então Movimento pelo Parque da Cidade, me lembrou os BMWs estacionados nas caves da Foz e Matosinhos Sul, e que pelos vistos têm maiores direitos do que... os portuenses! Como diria uma colega, "come on".

Quando pergunto "já viram o ponto a que chegámos" digo-o de forma séria. Não é só o facto de ser absolutamente legítimo ser contra um novo atravessamento do parque. Claro que isto não é ser fundamentalista, nem sequer se pode considerar na zona cinzenta do que é ser ou não ser fundamentalista. Mas adiante. Pior que isso é o facto de muitos de nós já terem interiorizado, talvez inconscientemente, que não vale a pena pedir muito, que tudo o que for um pouco além do status quo já é um excesso. Reduzimos e limitamo-nos sem darmos por isso.

Vale a pena voltar ao princípio, o famoso "thinking outside the box". Não é difícil. Imaginem um Parque da Cidade único (ou pelo menos raro) no mundo, ligado ao mar sem qualquer barreira e incluindo uma bela praia. Isto sim, seria qualidade de vida!

Mas o Parque, como aliás tem acontecido com as nossas belas praças (com os parques de estacionamento), tem sido pau para toda a obra. Foi o Pavilhão da Água (ok, nem é problemático, mas foi um começo); foi o edifício "transparente" (que criou uma gigantesca barreira entre a terra e o mar, que era o elemento mais distintivo do parque); foi o viaduto (que, enfim, até acabou por ficar bem integrado, mas era melhor que lá não estivesse); foi a pista do air bull. Acham pouco? Comparando com a visão idealista que expus acima, é muitíssimo! Estamo-nos a afastar muito do serviço que o Parque da Cidade poderia oferecer! Felizmente foi possível, até ao momento, evitar um golpe fatal que seriam as construções na frente da Circunvalação.

Uma nova travessia do Parque seria uma nova machadada. É por isso digo que é inaceitável e que é preciso desmontar esta estratégia de ir estragando as coisas aos poucos para que ninguém note e todos fiquem calados. Evitar mais danos torna-se assim um imperativo. Por outro lado, há que desdramatizar os problemas colocados pela solução que propus. A restrição do tráfego automóvel a uma faixa para cada lado no actual viaduto não é drama nenhum! Aquilo não é nem deve ser uma auto-estrada. É uma estrada marginal, e as zonas litorais devem ser destinadas prioritariamente para os peões. Vem nos livros.

Deixemos as histórias da carochinha de lado...
Seria interessante saber o que os candidatos à CMP pensam sobre este assunto.

Abraços a todos
Nuno Quental