De: José Silva - "O «nosso» Lobby ou o Lobby de Marques dos Santos (UP)"
Caros leitores da Baixa do Porto,
Em primeiro lugar as minhas desculpas por falta de feed-back sobre o projecto Lobby AmPorto. Compromissos familiares e profissionais impediram-me de participar no jantar e participar mais activamente no blogue.
Como se pode ler aqui e aqui, a AmPorto tem mesmo hipóteses de se tornar um polo de desenvolvimento nos próximos anos. A atracção de população para zonas urbanas é para continuar. O lazer dos portuenses é em casa e não fora de casa. Há muito a fazer para cativar os residentes para teatro, galerias de arte, restaurantes, tertúlias, animando a economia local.
Tipicamente, em qualquer região/cidade existem actividades económicas orientadas para os consumidores locais/regionais ou orientadas para o mercado nacional/exportação. Há também o sector público... Na AMPorto também se passa o mesmo. A Sogrape, Efacec, Bial, Sonae, Unicer, Ibersol, Salvador Caetano, Lactogal, PortoEditora, têm mercados nacionais ou de exportação. Os hotéis, os transportadores de passageiros ou mercadorias (metro, taxistas, Cpporto, etc), os centros comerciais, os arquitectos, promotores e agências imobiliárias e construtores civis cá instalados, trabalham para um mercado local e a viabilidade dos seus negócios depende do poder de compra dos residentes. Assim, quer se queira quer não, há cidadãos que sentem no bolso a estagnação económica regional. Outros não. Portanto, há cidadãos que se indignam com o actual estado das coisas e outros não. É natural. Há ainda os funcionários públicos e a população fora do mercado de trabalho, para os quais estes assuntos são um pouco abstractos...
Independentemente do grupo a que pertença cada residente, a maior parte deles é proprietário da sua residência. E então, por esta via, e se for previdente, estará interessado no desenvolvimento local/regional de forma a potenciar a valorização do seu património imobiliário. Se as redes de metro forem adequadas, se o Douro não estiver poluído, se as universidades captarem alunos, se não houver fuga de cérebros, se o aeroporto tiver elevada frequência, então as habitações da AMPorto terão grande procura e valorização, assim como o património individual dos seus proprietários...
Considerando a ineficácia do poder político no desenvolvimento regional, a minha opinião é que faz todo o sentido um Lobby. Mais. Será a emergência de um Lobby de cidadãos que provocará o desenvolvimento, assim como foram os debates na Internet sobre desenvolvimento regional/regionalização/fusão de autarquias que fez o poder político e mediático pronunciar-se sobre estes assuntos. Caso já existisse o Lobby, já haveria esta causa para lutar: Convencer a Vodafone a instalar a sede no Porto na Baixa em vez da Boavista.
Apesar de o admitir, o Lobby não pode ser executado pelos poderes públicos nem muito menos pela Universidade do Porto, quer haja ou não do voluntarismo do novo Reitor Marques dos Santos. É que a natureza pública da UP, tutelada centralmente, impedirá a realização de iniciativas para além do PortoCidadeRegião. O porquê tem a ver com a geo-economia ou geo-política nacional. Como podemos ver aqui, a região de Portugal que pela sua dimensão populacional ainda tem massa crítica e impede ou atrasa a criação de um Estado-Nação à volta de Lisboa é a região norte de Portugal, centrada no eixo Porto-Braga. Efectivamente, todas as iniciativas locais que contrariem o carácter central de Lisboa a nível nacional, nomeadamente a paragem da fuga de qualificados para a capital ou emergência de «clusters» portuenses de tecnologia avançada serão vetadas pela tutela da UP. O desenvolvimento de Lisboa, autorizado e fomentado pelo poder central, passa pela atracção de residentes e actividade económica ao longo dos anos. Portanto, nunca permitirão que a região mais concorrente faça concorrência. Para quem não sabe do que escrevo, convido a ler este artigo ou reparar no interesse manifestado pela ferrovia Porto/Vigo por parte do Governo Galego face ao desinteresse do nosso governo central. Convido também o reitor Marques dos Santos a consultar os Economistas do Desenvolvimento da FEP ou historiadores e geógrafos da FLUP sobre estes assuntos (ler Fernand Braudel, Immanuel Wallerstein, Dependency theory) transpostos para a geografia nacional e a moderar as suas e nossas expectativas... Quanto a Lobby, o que o novo Reitor pode fazer é fomentar a participação a título individual dos 50000 universitários da UP. Assim, sim, já funciona... Entretanto se a UP conseguir executar a sua missão educativa e ser bem gerida já será muito bom. Não falta trabalho para casa, começando pela fusão de back-offices, avançando para a redistribuição de cursos entre faculdades, o incremento dos eventos científicos geradores de procura hoteleira e pela medição anual e incremento de patentes e startups tecnológicas.
Lancei o desafio. Estou desde já grato pela reacção positiva do Tiago, de António Alves, de Rui Valente, de Cristina Santos e de Paulo Espinha. Somos efectivamente já alguns. De certeza que junto dos nossos conhecidos duplicaríamos ou triplicaríamos o número de aderentes. Porém, em termos de receitas, não acho que teríamos a dimensão suficiente para de forma estável e profissional avançar com o Lobby. Fica de qualquer modo o meu agradecimento pela disponibilidade demonstrada. Fica também a promessa que retomarei este assunto de uma outra forma em Setembro próximo.