De: TAF - "O novo Reitor da UP"
Hoje, Segunda-feira, toma posse o novo Reitor da Universidade Porto, cujo programa pode ser consultado aqui. O momento é provavelmente mais importante para a cidade do Porto do que para a Universidade propriamente dita. Este meu antigo professor na Faculdade de Engenharia, de quem retenho a melhor das impressões, tem provas dadas na própria faculdade (onde liderou a transferência para a Asprela) e, mais recentemente, na Reitoria onde foi o responsável pela criação do IRIC.
Na “Visão” que defende para a Universidade, o Prof. Marques dos Santos escreve o seguinte:
“uma Universidade que, apesar da sua postura global, se empenhe num intenso comprometimento com as comunidades locais e regionais, contribuindo para o seu desenvolvimento;”
“uma Universidade socialmente responsável, assumindo a ética e a transparência como atributos fundamentais, colaborando na preservação do meio ambiente e respeitando o ser humano;”
“Tendo em atenção a necessidade de (…) intervir ao nível político, exercendo influência nas grandes decisões e linhas programáticas definidas pelas entidades competentes, através da crítica construtiva, reivindicativa e exigente.”
Mais do que nunca, o Porto precisa da sua Universidade. Na linha das sugestões que tenho vindo a dar, eis algumas reflexões.
A passagem da Faculdade de Engenharia para a Asprela foi das piores coisas que podia ter acontecido à Baixa do Porto. Mas, paradoxalmente, foi uma decisão correcta. Atendendo à completa ausência de alternativas em tempo útil no centro da cidade, imagine-se como estaria Engenharia se ainda se mantivesse nas instalações da Rua dos Bragas… Entre bloquear o desenvolvimento da faculdade ou avançar para a única solução possível na altura, a Universidade fez o que tinha a fazer. Prefiro ter uma Faculdade de Engenharia pujante na Asprela do que a Baixa artificialmente ocupada com pessoas sem condições de trabalho. Contudo, dada a história desta mudança, Marques dos Santos fica também com um “dever moral” especial de ajudar à recuperação da Baixa do Porto. E há muita coisa que pode efectivamente fazer como Reitor. ;-)
Lê-se nos “Objectivos” do Programa:
“Contribuir para o desenvolvimento do Parque de Ciência e Tecnologia do Porto, em particular o do pólo previsto para a Asprela e de outro, a projectar, para o Campo Alegre.”
“Afirma-se o propósito de construir uma nova residência no pólo da Asprela (…) Definir-se-á um programa para atender necessidades futuras, nomeadamente as que se prendem com o acolhimento de alunos estrangeiros, de mobilidade ou não. Para o efeito ponderar-se-á a edificação de novas instalações ou à utilização/recuperação de existentes, eventualmente com recurso a parcerias público-privado.”
Ora tudo isto poderia e deveria ser feito na Baixa, em coordenação com a SRU e com a autarquia, pois o Metro já permite uma mobilidade decente.
Ainda nos “Objectivos”:
- Reforçar a ligação à comunidade local:
“Aprofundamento da abertura à comunidade centrada na Área Metropolitana do Porto, tendo em vista intervir na definição e concretização de estratégias e acções que visem o seu desenvolvimento social, económico e cultural.
- Promover activamente a colaboração com as entidades locais e regionais, visando assumir uma intervenção dinâmica na definição e concretização das políticas de desenvolvimento regional.
- Providenciar contactos, frequentes e regulares, das diversas lideranças dentro da UP com líderes de opinião e outras entidades influentes, tendo em vista dar a conhecer as suas realizações e planos de desenvolvimento, bem como sensibilizar para os problemas mais prementes e ganhar apoios para os resolver.”
- Intervir ao nível político
"Num tempo em que as decisões políticas terão que assentar em bases técnico-científicas sólidas, defendemos que a UP deve assumir uma postura de intervenção pró-activa e de crítica construtiva e acutilante, perante as opções e deliberações do poder político. Este posicionamento implica a obrigação de:
- Assumir uma postura activa na apresentação às entidades competentes de propostas para a elaboração de legislação em falta ou substituição da desactualizada, com interesse para as actividades da UP e do ensino superior, bem como na emissão de pareceres bem fundamentados sobre projectos legislativos colocados à discussão pública.
- Promover debates públicos sobre temas importantes para a sociedade, tendo em vista contribuir para a tomada de decisões.
- Realizar uma função activa de ‘lobby’ junto das entidades competentes, visando salvaguardar os interesses da UP perante interesses concorrentes ou antagónicos."
De acordo. Fica aliás aqui uma sugestão muito concreta: tirar partido do Instituto Arq.º Marques da Silva (que além da documentação relativa ao trabalho do arquitecto tem um valioso património imobiliário) para intervir activamente na reabilitação urbana do Porto. Há inúmeros aspectos onde pode ser útil - oportunidades não faltam.
A Universidade tem todas as condições para:
- - promover o debate público esclarecido sobre a cidade e o seu futuro, divulgando os variadíssimos estudos que realizou e que não estão acessíveis aos munícipes - é a velha questão da transparência;
- - ocupar espaços na Baixa, recuperando os seus próprios imóveis e outros que sejam necessários, em sintonia com a SRU e recorrendo às ferramentas de que esta dispõe;
- - coordenar a actividade de projecto (urbanismo, arquitectura, engenharia) correspondente, apoiando a Câmara Municipal que não tem ainda uma actuação eficaz;
- - congregar esforços com entidades externas (locais, nacionais e especialmente internacionais) para promover o desenvolvimento sustentável da cidade, no seu sentido mais lato (social, ambiental, económico, etc.), aproveitando esta oportunidade para gerar novas competências e mais riqueza;
- - suscitar o aparecimento de iniciativas de empreendedorismo social de dimensão proporcional à gravidade dos problemas que nos afligem – não podemos continuar “às pinguinhas”...
Já aqui tenho frequentemente escrito que este tipo de ambições não é compatível com “voluntarismo académico” de pessoas muito bem intencionadas mas dispersas por mil e uma actividades. A Universidade tem que ter equipas profissionais a tratar de cada um destes assuntos, concentradas na sua missão e devidamente avaliadas pelos seus resultados.
Estou confiante de que o novo Reitor estará à altura daquilo que o Porto precisa dele: que saiba escutar e que saiba gerir. A sério.