De: TAF - "Comentários ao jantar"

Submetido por taf em Quinta, 2006-06-29 02:06

Jantar do blog no Batalha

Acabei de chegar do jantar no Batalha. Além das presenças anunciadas anteriormente e da Cristina Santos numa visita rápida, estiveram também Lino Ferreira, vereador do Urbanismo e Mobilidade, e Joaquim Branco, presidente da comissão executiva da SRU. Aceitaram o meu convite, nota positiva. :-)

Nota menos positiva, a comida em si podia estar melhor… Mas o espaço é muito agradável e acho que, pesando tudo, foi uma boa escolha.

Passemos a algumas notas telegráficas sobre “o sumo”.

A “corrida” ao Edifício das Flores sempre foi um equívoco. Já deverá haver comprador firme, contudo, para todas as fracções de habitação. Sinal de esperança para a Baixa e desafio claro aos promotores imobiliários: está provado que há procura, apareça agora a oferta. Se os preços baixarem significativamente, estou certo de que então haverá realmente uma “corrida”.

O interesse, a boa-vontade e a boa-fé de todos, vereador incluído, parecem evidentes e indiscutíveis. Isso é suficiente? A meu ver não. Continuamos a esperar demais da Administração Pública, e esta continua com os mesmos vícios de sempre, por mais que Lino Ferreira diga que não.

A presença de Lino Ferreira e de Joaquim Branco no jantar são de aplaudir e agradecer. Mas os relatos que o próprio vereador faz da situação da Câmara mostram que a “fera” está por domar, que as dificuldades estruturais internas subsistem, que o esforço, mesmo tendo provocado algumas melhorias, não chegou para mudar qualitativamente os serviços autárquicos.

Há um facto que os gestores públicos tendem a esquecer: as pessoas que constituem a máquina pesada da qual eles se queixam são as mesmas que poderiam estar a produzir muito mais se encontrassem a liderança adequada. As mesmas, não outras. Trata-se de um problema de motivação, de avaliação sistemática, de prémio do mérito e castigo da incompetência. E, principalmente, de transparência! E é aqui que as notícias são realmente más: o Executivo continua a não perceber que TUDO deve ser tornado público, pois só pela exposição das fraquezas do sistema se poderão corrigir as suas falhas.

A Câmara tem o dever de facilitar o acesso sem restrições (com raríssimas excepções em casos muito especiais) de todos os munícipes aos processos, pareceres, contratos, projectos, etc. Em muitos casos nem sequer é um problema tecnológico, pois grande parte desta informação já circula internamente em formato digital – passá-la para a Internet é trivial. É um problema político, é uma opção deliberada. Não é má-fé. É, sem ofensa, ignorância: não compreender o alcance estratégico, a absoluta necessidade desta medida, a sua urgência inadiável.

Quando um bom engenheiro encontra um problema grande e complicado toma duas medidas: primeiro define prioridades e logo a seguir divide o problema em parcelas mais pequenas, cada uma delas com dimensão tratável. Não vejo isto a acontecer na Câmara, pelo menos em grau suficiente. Encontro as mesmas velhas desculpas, iguais às dos executivos anteriores, igualmente bem intencionados, que ajudaram o Porto a descer onde desceu.

Estou pessimista? Não. Apenas constato que somos nós, sociedade civil, que temos de atacar estes problemas, já que a Câmara, mesmo que queira, não está a conseguir dar conta do recado. Não é que a Câmara não faça nada, mas é um caso semelhante ao da SRU: medidas em geral positivas, mas em micro-escala. É preciso mais, muito mais, muito mais depressa. É preciso menos Estado.

O vereador fez bem em aparecer no jantar. Foi uma conversa agradável, uma pequena “operação de charme” que só lhe fica bem e que é útil para o Porto. Deu algumas novidades sobre assuntos importantes e por isso lhe renovei o desafio de que as conte também aqui no blog, especialmente se o site da Câmara estiver sem espaço por causa das brigas com o JN... O meu papel não é o de jornalista, é de moderador. A Baixa do Porto está à disposição de quem a quiser usar para comentar ou divulgar o que entender. Se o Executivo ou a SRU pretendem melhorar a sua comunicação com a cidade, não faltam oportunidades nem meios. Basta escrever um email, que é sempre bem vindo, lido com atenção e publicado com rapidez. ;-)

Em resumo: foi um jantar agradável, útil e interessante, mas soube a pouco. Temos que nos mexer com mais eficácia. Organizemo-nos.