De: Pedro Bragança - "Bolhão e S. Bento"
Quando vejo as propostas e ideias para a estação de S. Bento lembro-me, imediatamente, do caso do Mercado do Bolhão. Fiquei até confuso – com todo o respeito – quando o António Alves disse Ao contrário do que se passa com o Bolhão, a introdução duma vertente comercial na Estação de São Bento não altera a tradicional função do edifício." Pensei duas vezes, voltei ao real e lembrei-me que o Mercado do Bolhão é um mercado serve para comprar e vender produtos frescos (e outros) e a Estação de S. Bento é uma estação onde chegam e saem comboios – estes são os seus conteúdos fundamentais, que lhes dão nome. De facto esta ideia de que o carácter comercial é um programa que encaixa bem em qualquer caixote, e este modo de ver o edificado como um caixote vulnerável que é capaz de acolher qualquer coisa incomoda-me. Incomodou-me na proposta da TCN para o Bolhão e incomoda-me quando se falar nos novos programas de S. Bento.
Admito que sou um apaixonado pela reabilitação, mas quando o Marques da Silva concebeu a estação, ou o Correia da Silva o mercado, desenhou pormenores que caracterizam o espaço, que conformam o dia-a-dia das pessoas de determinado modo. Assim sendo, ou a reestruturação programática ou é feita por alguém que domina esse modelo de trabalho ou – como acontece em grande parte dos casos – resulta num grave erro. Erro mais grave ainda quando sobreposto a um edifício que (sendo património classificado ou não) é um exemplar de arquitectura único.
Por último, senti quando trabalhei aquelas semanas Porto Redux acerca do Bolhão o que começo a sentir sobre a propostas de intervenção nos diferentes edifícios públicos da cidade: há um claro objectivo, pretensioso e provinciano, de sermos o que nunca fomos; todos queríamos um Convent Garden, ou um Saint-Germain, ou um Santa Caterina mas a cidade do Porto está muito longe da escala de Londres, Paris e Barcelona. Nada contra tenho, à partida, à introdução de novos programas em edifícios que não foram concebidos com esse objectivo, mas deve haver enorme acuidade, sensibilidade e bom senso, tanto a nível das opções 'políticas' como a nível das de desenho.
(Para que o betão a imitar chama, o falso tabique, a caixilharia de PVC e o vidro laminado deixem de ser uma realidade na Baixa do Porto)