De: Nuno Oliveira - "Os Abusos Pontuais e os Abusos Recorrentes"
Cara Baixa do Porto
Gostaria de discutir vários pontos na opinião do Alexandre Burmester quando diz que os "Portuenses e a população em geral" se viram incomodados para "gáudio de uma minoria" que decidiu andar de bicicleta que me parecem relevantes para discussão de como se pode viver a cidade do Porto. Devo informar que a minoria de que se falou também é portuense e cidadã (não é lisboeta ou ódio de estimação) e que o abuso de que fala no título - intransitabilidade, demora, incompreensão da polícia, irascibilidade dos cidadãos, falta de organização e de espaço- sofreram os automobilistas um dia e sofro eu todos os dias como peão nesta cidade. Se todos os comodistas andassem de transportes públicos, a pé e de bicicleta não haveria esse trânsito de que se queixa, perdíamos todos uns quilos, respirávamos melhor, circulávamos melhor, poupávamos dinheiro e era mais fácil viver na Baixa do Porto.
Basta destas patetices política e aparentemente correctas, porque mais não passam de demagogia e de falta de respeito. Querem proporcionar passeios? Vão para onde a ecologia vos deve empurrar, para o campo, e não no meio do trânsito.
A minha sugestão em relação a esta frase é que se crie um novo Blog chamado A Periferia do Porto onde se podiam vangloriar os shoppings e os loteamentos bem servidos de IC's. Como um arquitecto que defende o sucesso do espaço público, é uma posição bombástica esta perpetuação anacrónica do automóvel no topo da cadeia alimentar de que depende uma produtividade. Em todas as capitais mais produtivas do mundo com 10 vezes mais habitantes do mundo se anda de bicicleta numa escala muito maior a que testemunhou. A Baixa do Porto só vale a pena se der para estacionar à porta em cima do passeio? Não estará toda a Ribeira melhor preparada e vocacionada para acolher os "desgraçados" que andam a pé e de bicicleta do que aqueles que não dispensam do parking ultra-conveniente? Exemplo.
Para chamar a atenção de todos os desgraçados que não têm outra alternativa do que se fazer transportar em veículo próprio, até porque os transportes públicos são maus?
O Porto tem uma excelente rede de transportes públicos com boa cobertura suburbana e intermodalidade, devia experimentar um dia destes. Não fica preso no trânsito tantas vezes, apesar de praticamente todos os engarrafamentos que sofre diariamente não serem responsabilidade de ciclistas. Tenho opções e escolho poupar dinheiro, melhorar a minha cidade e a saúde de todos mas deve ser por palermice e egoísmo.
Ou porque a propósito do uso de um transporte ecológico e salutar, que por acaso nem sequer é compatível com as ruas da cidade, pela ausência de ciclovias e pela sua topografia.
Espectacular esta frase- é simultaneamente o Politicamente Correcto do que não se pratica e a resignação total face à mudança da cidade. "Parece que faz bem ás pessoas e à cidade e tal mas o que é que se há-de fazer?" Pode ver o ficheiro CAD da cidade e constatar pelas cotas que é bem possível andar por quase toda a cidade fora o risco de ouvir diariamente os piropos de alguns condutores. Em que é que ficamos - na falta de planeamento ou na fatalidade geográfica? Nenhuma encaixa numa postura proactiva em defesa da cidade...
Vão fazer barulho e confusão para outro lado.
Somos expulsos diariamente dos passeios como vândalos. Tomara o silêncio das motas e o ronrom dos automóveis, que são tão arrumados e limpos e decoram tão bem os nossos passeios. Queremos uma Baixa ou um Siloauto? A crítica a um evento mal organizado não escondeu o preconceito e a ignorância...
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Com os melhores cumprimentos,
Nuno Oliveira