De: António Alves - "A força da táctica e a táctica da força"
Cara Cristina
Há cerca de ano e meio apareceu fixado no local de avisos aos trabalhadores ferroviários em Contumil, coração operacional ferroviário da Região Norte, uma comunicação que dizia, mais palavra menos palavra, basicamente o seguinte: “Todos os maquinistas interessados em frequentar o curso de formação para condução de comboios CPA4000 (Alfa Pendular, para os leigos) deviam primeiro requerer a sua transferência para o Depósito de Tracção da CP Longo Curso em Santa Apolónia-Lisboa.”
A intenção era clara: acabar com o serviço de longo curso no Norte do país, passando tudo a ser coordenado e desenvolvido a partir de Lisboa. O que fizeram os maquinistas de Contumil? Revoltados, em vez de se lamentarem, foram ter com os seus dirigentes sindicais eleitos e foram claros: se tal coisa acontecesse os primeiros a pagar seriam eles; rapidamente voltariam a ter que trabalhar de novo no duro - i.e., voltar para a linha da frente, trabalhar de noite, de dia, dormir fora de casa, trabalhar aos domingos, feriados e dias festivos, à chuva e ao sol. Os maquinistas usaram a força de que dispunham - a capacidade de destituir dirigentes sindicais estabelecidos em Lisboa (1) - e o malfadado papel desapareceu rapidamente. Os maquinistas, no entanto, mantêm-se atentos.
Nos últimos dias os empresários de camionagem fizeram o mesmo, usaram a força, dum modo até selvagem e ilegal, mas de qualquer modo conseguiram parte do que reivindicavam. E ninguém por cá viu os aviões da Europa.
Moral da história: se não usarmos da força (2) que dispomos bem podemos esperar sentadinhos.
1) Devíamos fazer o mesmo aos nossos deputados.
2) Pode ser muita coisa: os votos, o dinheiro que temos, os impostos que podemos recusar-nos a pagar e até o nosso mau feitio.