De: Cristina Santos - "Da emigração"
Vou falar-vos de uma situação com que me tenho deparado, extremamente interessante do ponto de vista da emigração, infelizmente não estou a par de todas circunstâncias que a originam, mas vou contar-vos tal como me contam e vejo.
Vem isto a propósito de gerar riqueza no Estrangeiro.
Lá para as terras das chegas de bois e dos fumeiros começam a chegar os filhos dos emigrantes da década de 50/60, vêm de França, onde nasceram, cresceram e estudaram. Têm formação, tiveram empregos, estágios, remuneração bem acima dos nossos índices, mas queixam-se de nunca terem ganho o suficiente para poder sair da casa dos pais, com alguma independência e dignidade. Também não estão dispostos a aceitar um trabalho semelhante ao dos seus pais, acham que estudaram, que nasceram lá, que tem direito a um vínculo contratual fixo, que lhes permita independência financeira... Chegam a fazer contas ao que pagaram pelos seus estudos e acham que o Governo Francês lhes deve uma espécie de indemnização...
Revoltados, resolveram vir para as aldeias e ocupar as casas construídas pelos seus pais e as casas dos seus avós que entretanto estavam fechadas. Trouxeram algum dinheiro para investir em Bombas de Gasolina, Restaurantes, Turismo Rural e outros negócios capazes de singrar em Trás-os-Montes, vinham cheios de esperança, diziam que em França o nível de vida era muito caro e que de há 8/9 anos para cá não era possível fazer qualquer tipo de economia.
Diziam que com a formação deles e com as economias seria fácil cá, porque a formação dos que cá estão não se compara à deles e Portugal, o tal país pequenino, seria uma mina de ouro dado o «subdesenvolvimento».
E se os negócios próprios falhassem tinham sempre a esperança de conseguir um emprego bem remunerado, porque Portugal não se daria ao luxo de desaproveitar a sua formação estrangeira…
Já instalados em Portugal acham muito estranho que, feitas as contas, a única diferença seja o nível de vida, se lá se ganha mais paga-se mais pela habitação, por tudo, cá ganha-se menos e paga-se um pouco menos, mas no fim a economia possível é igual.
Quando vêem os jovens partir pela primeira vez para a emigração, lamentam, dizem que em poucos meses vão regressar porque é uma injustiça que jovens europeus se deixem explorar – dizem que a única solução desses jovens portugueses «é irem para lá e fazer muitos filhos tipo árabes».
Dizem «lá há emprego para os meus pais, para os velhotes, mas para os jovens não há emprego, mesmo para os jovens Franceses. Só uma pequena minoria consegue através de conhecimentos, os empresários são comuns a muitas empresas e só conseguem vínculo e dignidade os afortunados que nasceram em berço VIP, trabalhar para as pequenas empresas não gera economia.»
Rematam quase sempre «França é uma bomba que já só lhe resta uns anos de rastilho».