De: Emídio Gardé - "A Linha do Tua"
Ref.ª: António Alves
Respeito a sábia, e prudente, opinião de Nuno Fernandes no seu post, principalmente quando refere, no final, que «A escolha do Tua é tão difícil como qualquer outra grande decisão respeitante à ocupação do território - deve por isso mesmo ser enquadrada por uma discussão séria de prós e contras, a curto e a longo prazo»; com efeito é mesmo uma decisão difícil de tomar mas, o que (trans)parece é que essa decisão foi, contrariamente, fácil de tomar por quem (supostamente) de direito: é necessário construir uma barragem, logo afogue-se a linha férrea, por mais potencialidades turísticas - já que as restantes são sempre postas de parte - que tenha.
Nesse sentido, e como de resto tenho manifestado, mesmo implicitamente, no meu "et verte", não sou a favor da construção da barragem. Porquê? Pegando em informações de terceiros,
- 1. a barragem não terá (pelo menos nas primeiras décadas de operação) retorno energético positivo. Ie, a energia que gerará dificilmente cobrirá a energia que gastará a ser construída;
- 2. se o Estado pagasse a troca das lâmpadas incandescentes, ainda existentes em funcionamento nos lares e edifícios em Portugal, por lâmpadas economizadoras, o montante envolvido seria menor - e o ganho energético maior.
Resta-nos o único aspecto que reputo útil nesta barragem - o armazenamento de água, o "petróleo do século XXI" como alguém já se lhe referiu. Mas justifica afogar a tal linha férrea "só" por isso? Como escreveu José Augusto Moreira, a págs. 28 (caderno Local) do Público do passado dia 24 de Maio: "Imagine-se uma decisão que passasse pela destruição do Mosteiro do Jerónimos ou da Torre de Belém, aproveitando esses espaços privilegiados para aí serem construídas novas e rentáveis infra-estruturas para o turismo ou outra qualquer actividade. O mesmo se diga em relação à Torre dos Clérigos, Estação de S. Bento, a Sé de Braga ou a Universidade de Coimbra. Impensável, como é evidente, por mais rentável, estratégica ou urgente que fosse a dita obra. (...) Do que trata é de manter um importante património histórico-cultural e não de uma mera questão de transportes, como com hipócrita desfaçatez o governo e a EDP parecem fazer querer às populações."
A linha do Tua, e repetindo o que já foi dito em 'n' outros locais, está integrada no zona do Douro, Património Mundial. Será porque "só" serve «uma série de povoados mais ou menos distantes da linha» etc., etc. e está a mais de uma centena de quilómetros de uma urbe importante do país, pode ser simplesmente afogada?
Emídio Gardé