De: Pedro Lessa - "Diz que disse"

Submetido por taf em Sexta, 2008-02-15 18:50

Não tendo por norma responder, caro Luís Filipe Pereira, aqui vai o meu singelo comentário ao seu último post. Não me considerando um especialista no que quer que seja, apenas comentei o que uma pessoa (que diz que não percebe nada) disse, sem perceber nada do que dizia. Aliás, foi o que essa pessoa disse, que não percebia nada. Ultrapassando o diz que disse, o Luís, sobre as questões que eu referi, neste último post nada disse. Cá voltamos ao diz que disse, tão característico deste nosso país, dizer e falar do que não se sabe. O que o Luís disse (lá está, novamente), poderia ser interpretado como uma afronta à dignidade profissional do arquitecto em questão, mas sobre a questão que lhe dirigi directamente, nada disse (novamente, o diz).

Relativamente à sua conclusão, quando diz que não percebo nada de dinheiros (outra vez, o diz), o que lhe disse no meu post (agora sou eu que digo), foi que quando uma Câmara, através do seu Executivo, tem políticas sérias e definidas para a cidade, actua e fomenta o seu desenvolvimento. E aqui, o Luís confirmou o que eu disse (aqui sou eu novamente), que não percebe nada. Afirma que, “finanças municipais, que pura e simplesmente não têm capacidade para aguentar esse esforço (ou então seria necessário diminuir o esforço a realizar com outros aspectos - reformulação de bairros sociais, requalificação urbana, metro, etc, etc, etc)”. O Luís sabe que com a reabilitação dos mercados (neste caso o do Bolhão) se pretende precisamente fazer requalificação urbana, o metro, etc, etc? Pois é, não sabe. Nós que já andamos aqui no blog há uns anos, tentamos demonstrar isto, com exemplos e opiniões fundamentadas. O que, manifestamente não parece o seu caso. Portanto, aqui vai mais um exemplo, já referido por mim aqui no blog. A cidade de Barcelona tem mais de 40 mercados tradicionais municipais. Quarenta! Aposta neste tipo de equipamento porque sabe que está a fomentar a requalificação da cidade e, acima de tudo, desenvolver uma actividade tradicional, baseada nas pessoas e suas tradições, rituais, etc. No cômputo geral, criar movimento, para e com as pessoas. Nós por cá, com apenas dois (com dimensão), é o que se sabe. Ou por outra, o senhor que lá está, não sabe. Prefere usar as finanças locais como o Luís diz, nos automóveis, aviões, negociatas culturais, quebra de protocolos para depois indemnizar, e afins.

Afirma também, “Como fica demonstrado atrás, a Câmara não tem vocação para fazer isso (recordo os exemplos de Serralves e da Casa da Música).” Demonstrado atrás, onde? A Câmara de Barcelona tem capacidade (40), só a do Porto é que não (2). E caso não saiba, a Câmara do Porto fez parte dos promotores da Casa da Música.

Espero tê-lo esclarecido, na minha modesta e humilde opinião de artista/arquitecto, que não sabe nada de dinheiros e que tem cuidado nas opiniões que formula. Considere que me fico por aqui nesta temática.

Cumprimentos,
Pedro Lessa.
pedrolessa@a2mais.com

PS: Pérgula da Foz - "Localizada entre a Praia da Luz e os jardins da Avenida Montevideu, esta balaustrada de cimento foi construída por volta de 1930, integrada no Projecto de Melhoramentos e Embelezamento da Avenida Brasil, elaborado pela 3ª Repartição da Câmara Municipal do Porto a 20 de Março daquele ano. Segundo documentos pertencentes ao Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto, o projecto foi apresentado em sessão da Comissão Administrativa, no dia seguinte, pelo Vereador das Obras, Tenente Alves Roçadas, e foi aprovado juntamente com um projecto de detalhes da Pérgula. A sua construção custou cerca de 53 mil escudos e foi entregue a António Enes Baganha"

in Revista Municipal Porto Sempre nº 11