De: Rui Valente - "«Sobre Paulo Morais» e um pouco da Ribeira"

Submetido por taf em Terça, 2006-05-30 21:38

Cara Cristina Santos,

Gostava de responder a algumas das suas interrogações, mas queria de fazê-lo preferencialmente sem ferir susceptibilidades. Vamos lá ver se consigo.
Começo por lhe dizer que, provavelmente, nunca como agora Paulo Morais teve tanta razão. Imaginará por quê? Porque neste momento está politicamente mais descomprometido e diz finalmente de facto tudo o que pensa, ou quase tudo... E isso é sempre incómodo, mexe com interesses instalados e toda uma série de conveniências inconfessáveis. Não se esqueça disso...

Também já terá reparado que não hesito em apoiar uma ideia ou ponto de vista de alguém, desde que assim o entenda, sem qualquer interesse pessoal ou corporativista, da mesma forma como não vacilo em criticá-la se achar que o devo fazer. A isto chama-se liberdade de espírito e seriedade. A hipocrisia nunca se deu bem comigo, nem eu com ela.

Contrariamente ao que possa pensar, aprecio alguns dos seus comentários, porque apesar de frequentemente ingénuos são voluntariosos e isso é bem visível no seu último post.

Além da sua, já tenho sido "alvo da crítica" de outros participantes deste espaço, (como é o caso recente do até aqui silencioso Frederico Torre) mas isso é normal e, em vez de me desanimar, funciona como um catalisador e motiva-me para continuar. Provavelmente estarei a "acertar" em cheio no alvo dos problemas da nossa cidade e de quem os promove, o que é bom sinal. Neste caso concreto, não vou voltar a pronunciar-me, a não ser quando acontecer aquilo que com maior ou menor brevidade se prevê: o acidente "ocasional". Depois, irá reparar, como aqueles que aprovam o cais da ribeira tal como está sem qualquer protecção vão tirar o cavalinho da chuva e atribuir a terceiros a responsabilidade do que provavelmente vier a acontecer. Para já, opta-se por esquecer que aquele espaço (do cais) de comércio e lazer é exíguo em todos os sentidos e que, aos fins de semana e dias festivos a sua frequência aumenta consideravelmente, com álcool à mistura etc., etc. Para já, privilegia-se o capricho estético, depois lamenta-se a desgraça, opta-se pelo silêncio e em certos casos remenda-se. Tipicamente português. Aguardemos.

Mudando de assunto e retornando ao seu post. Como pode constatar, não fiquei apático às denúncias de Paulo Morais e gostava de lhe saber responder a todas as suas dúvidas, tão pertinentes quanto ingénuas, mas confesso-lhe que não sei. O que lhe posso dizer é que você já deu a resposta principal ao interrogar-se: "de que lado fica o povo numa situação destas?". Já agora, eu acrescentaria: o povo, na oportunidade não sabe e o povo não somos apenas nós! O povo é também e principalmente, o cidadão com baixos recursos económicos, sem grande instrução e com pouca disponibilidade para intervir nos assuntos do país à excepção de avulsos actos eleitorais. Em suma: o povo nem sabe que nós existimos.

Resumindo e concluindo: tudo o que de pertinente aqui possamos dizer ou fazer não passará de voluntariosos mas inconsequentes processos de intenção se não acompanhados de uma genuína vontade de congregar ideias com objectivos comuns bem mais ambiciosos do que meramente corporativistas. Compreendo que o espírito de "A Baixa do Porto" não possa ir muito para além de um espaço de opinião onde apontamos as nossas ideias e observações, mas pessoalmente começo a ficar cansado dos pontos de interrogação. Gostava de promover um movimento cívico solidário em defesa da nossa cidade que nos tirasse deste marasmo onde as opiniões se cruzam como espadas em vez de se solidificarem num mesmo caminho. O Porto merecia isso.

Há quem se contente com o seu contributo opinativo ou com a sua acção na vida pública resultante da sua actividade profissional ou política e que se convença que já está a dar um indispensável contributo cívico. Regra geral, esses são os que mais se acomodam, os que detestam levantar ondas, com receio de afectar os seus inconfessáveis interesses pessoais, mas que não podem nem devem confundir-se com os interesses dos cidadãos. Estarão no seu direito, só não têm é o direito de nos impor os seus conceitos ou ideologias só porque não alinhamos sempre no seu discurso. E já deu para perceber quantas pessoas se sentem melindradas quando de alguma forma beliscam as suas pequenas coutadas. Pense nisto Cristina e depois diga-me se chegou a alguma conclusão.

Cumprimentos
Rui Valente