De: Rui Encarnação - "Excessos"
Cara Cristina:
Perdoe-me, mas o único excesso que vejo na análise que fez do arquivamento da queixa contra os ocupas é o excesso de bondade da sua análise.
A CMP de então, bem como Sr. Presidente da Câmara, à falta de capacidade de diálogo e de postura democrática (imperativa de quem recebe legitimidade do povo e por sufrágio) não quiseram descer à rua e ir ao Rivoli falar com os ocupas ou discutir com a sociedade civil a dita concessão do Rivoli a privados (nesta última parte, ainda bem que o não fizeram pois, como se vê agora, o que a CMP queria era gerir ela o Teatro e fazer dele o que bem quer, sem prestar contas).
Por isso é que ninguém, repito, ninguém, da CMP ou da Culturporto deu ordem de saída aos ocupantes, preferindo (recorde-se Cristina) cortar luz, água e aquecimento e cortar o acesso a médicos e alimentação (tipo daqueles filmes americanos sobre reféns). O protesto acabou ao fim de três dias, como podia ter acabado ao fim de três horas. O Dr. Rio é que só se lembrou, ou quis, chamar a PSP depois de três longos dias... sabe lá Deus para quê!
A queixa que a CMP fez, foi decidida e querida pela CMP, creio que deliberada em reunião do Executivo, e, por isso, não é um excesso, é uma vingança persecutória e discriminatória (pois a CMP não fez queixa quando se tratou do túnel de Ceuta ou dos cartazes no Palácio de Cristal contra a Ministra da Cultura). E, para terminar o ramalhete, à boa maneira do saudoso Eça, veja, pf, a notícia que está no site da CMP sobre a “oposição do JN” e sobre estas questões do Rivoli e ocupas. Para além da saudável gargalhada, é sempre bom recordarmos que o pasquim é uma forma tradicional, apesar de menor, de expressão social – ainda que não se recomende num site municipal e com dinheiro dos contribuintes.
Por fim, não consigo perceber a sua referência ao Código Surrealista, quando abordou a questão dos trabalhadores do Rivoli. A única coisa surrealista – para além de outros istas de muito má fama – nesse aspecto foi a conduta da CMP que correu ao pontapé, do dia para a noite, todos os que ali trabalhavam sob a invocação de que o Rivoli fechou. Se calhar é excesso de visão, pois o Rivoli está mesmo fechado e, como diz a CMP é um espaço livre que pode ser utilizado por todos quantos quiserem nele apresentar espectáculos... Devíamos nós todos, tripeiros, sentir-nos envergonhados e humilhados pelo facto da CMP e do seu Presidente, em nosso nome, ter fechado uma empresa à boa moda das têxteis do Vale do Ave (aliás, nem essas hoje fecham assim), da confecção de vão de escada, em que as máquinas são transportadas de noite e os trabalhadores quando chegam de férias já só vêem o ferro dos portões.
E, nesta questão, cara Cristina, não há excessos. Há processos, valores e princípios que excedem partidos e politiquices. Trata-se da nossa honra e do nosso bom-nome. Foram estes que a CMP, em nossa representação, fez, e faz, arrastar na lama mais suja, seja qual for o desfecho dessa acção no Tribunal.